segunda-feira, março 07, 2011

«Falamos o idioma dos animais» [+14 anos].- XFC


    O cartaz dizia-o claramente: "Falamos o idioma dos animais".
    Eu pensei que não era justo, porque cada animal deve ter um idioma diferente, isto é, não creio que uma cascuda fale igual que uma  baleia. 
    Bom, e onde é que dizia aquilo de que falavam o idioma dos animais?
   Tratava-se duma pequena clínica veterinária no interior dum centro comercial a poucos quilómetros de Praga. 
    Era engraçado, as pessoas já nem sabem como fazer publicidade dos negócios.
    Quem sabe falar qualquer idioma animal?
    Por isso, quis rir das pessoas daquela pequena clínica.
    Precisamente o meu cãozinho andava doente naqueles dias.
    Tratava-se dum chihuahua que andava resfriado.
    O coitado dele largava uns espirros que pareciam quase de cavalo, embora fosse tão pequeninho.
    Naquela manhã, fui com o meu cãozinho até a clínica.
    Pus o cão acima do balcão que separava o local do resto do centro comercial.
    Lá estava uma mulher jovem que, na altura, olhava qualquer coisa no computador.
    – Bom dia –cumprimentei eu muito educadamente–. Trago cá o meu cãozinho que anda resfriado.
    A mulher levantou-se da cadeira e veio para nós.
    Muito suavemente, acariciou a cabeça do meu chihuahua.
    Fiquei um bocadinho surpreendido, porque ele não gosta de ser acariciado por estranhos.
    – E diz que está resfriado? –preguntou a mulher em tom suave.
    Eu, que já não aturava a vontade de perguntar o que queria saber desde havia dias, disse-lhe:
    – Bom, se como dizem lá no cartaz, vocês falam a língua dos animais, pergunte-lhe você...
    Ela olhou para mim muito séria.
    Não gostara da brincadeira.
    Eu sim tinha vontade de rir, mal podia conter as gargalhadas.
    Então aconteceu.
    Ela começou a ladrar.
    O meu chihuahua reagiu e ladrou ele também.
    De facto mantiveram um breve diálogo a mulher e o meu chihuahua.
    Quando concluiu, ela disse:
    – O seu cão queixa-se também de dor de barriga. Diz que o senhor está a lhe dar de comer muita carne de boi ultimamente e não lhe  está a cair bem.
    Era verdade, os últimos pacotes que lhe tinha comprado eram de carne de boi...
    Fiquei sem palavras.
    Ela recolheu o cão e levou-o para o interior da clínica.
    Mas antes de ir embora, ainda ela disse-me:
    – O seu cão tem sotaque mexicano autêntico...
    Eu fiquei em pé, imóvel, como um doido.
    Porém, logo pensei em trazer para a próxima vez a tarântula do meu sobrinho. 
    Queria averigurar se também aquela mulher sabia falar a linguagem das aranhas.

© Xavier Frias Conde, 2011
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2 comentários:

Reis Quarteu disse...

Muito Bom! :-D

Xafrico disse...

Fico contente que gostasses da história :-)