À Lu dixera-lhe a mestra que nom podia continuar assim com o inglês, que ela nom o falaria nunca bem se nom apreendia a comer as palavras.
– Comer as palavras? –perguntou a Lu–. E isso como se fai?
– Ouviche algumha vez como falam os afro-americanos? Eles sim que falam bem. Comem bem as palavras e o seu inglês é perfeito –dixo a mestra, que era umha tipa estranha demais–. Mentres nom comas as palavras, nom falarás bem inglês e, portanto, nom aprovarás.
A Lu quedou bem preocupada com aquelas palavras da sua mestra. E como ia fazer ela para comer as palavras do inglês?
Aí topou-se com a avoa polo corredor da casa, quem ainda que nom tinha estudos, era umha mulher mui sábia. A Lu contava-lhe todos os seus problemas.
– Conque tens que comer as palavras –refletiu em voz alta a avoa depois de ouvir a narrativa da neta–. Escuita, quando cativa, a minha mãe, a tua bisavoa, tinha um remédio infalível para comer qualquer cousa.
– E qual é esse remédio?
– Mel de uz.
Já dito, já feito. Antes de começar as aulas de inglês, a Lu levava um frasquinho de mel de uz que lhe fornecia sua avoa. Metia umha colherada na boca e depois começava a falar inglês.
– Lu –dixo-lhe ao cabo a mestra–, nom sei como o fás, mas cada vez falas inglês melhor, até comes as palavras como um afro-americano. Como o fizeche?
Mas a Lu nom contou o seu segredo. Porém, quando tevo que apreender alemão, algum tempo depois, já nom lhe serviu o mel de uz, porque o professor daquela lhe dixo que, para falar bem alemão, tinha que apreender a falar com impo. Por isso, aginha a Lu berrou:
– Avoaaaaaa, como se provoca o impo?
– Que como se quita?
– Nom, que como se provoca...
Frantz Ferentz, 2015
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