Durante o pequeno-almoço no hotel, a garota não parava de olhar o seu telemóvel. Não prestava atenção nem na bolacha que molhava no leite com cacau, porque na maioria das vezes nem alcançava a boca dela.
Mas o pior era aquele som horrível que saía do aparelho cada vez que ela recebia uma mensagem. Soava como um mini-gong chinês e aliás ecoava continuamente, continuamente, continuamente...
Os demais hóspedes estavam muito chateados, aquela cascata de mini-gongs não permitia comer à vontade. Ninguém podia concentrar-se no seu pequeno-almoço.
O Locário estava também farto. Por isso, ergueu-se, colocou-se por trás da garota sem ela dar pela presença dele; a seguir abriu uma caixa de fósforos na cabeça dela e voltou para a sua mesa.
O efeito disso foi imediato. O telemóvel parou de reproduzir os sons dos mini-gongs e passou a dizer com uma voz fantasmal: «Vais morrer», e aliás aparecia uma caveira sinistra no ecrã.
Depois de três ou quatro vezes, a garota não resistiu ao terror, lançou o telemóvel pela janela e correu para o seu quarto a chorar aterrorizada.
Um dos hóspedes não pôde ocultar a sua satisfação; outro diretamente perguntou:
— Um vírus informático, não é?
— Eu acho que foi hipnose —disse mais alguém.
Mas o Locatário não respondeu, apenas sorriu enquanto voltava a abrir a caixinha de fósforos e fechava uns segundos depois, sem explicar a ninguém que ele era domador de monstros domésticos, como o das meias, o das bolachas ou o dos pesadelos. Mas esta era uma espécie recém descoberta, conhecida como o monstro do telemóvel, ou telemonstróvel
E já veem o que ele é capaz de fazer.
© Frantz Ferentz, 2023
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