sexta-feira, novembro 24, 2023

PARANÁ 10: QUEM TEME O GUARDA FEROZ

 


No centro comercial O Paraíso a gente comprava e comprava. Tinham os melhores preços da cidade e vendiam de tudo, de goma elástica com sabor a feijoada até carros que voltavam sozinhos para casa. 

Tudo era aparentemente perfeito, tudo, sim, excepto os guardas de segurança. Eles eram ferozes, tanto que até havia quem dizia que eram lobisomens e que foram vistos a perseguir ladrões em quatro patas. 

Portan,to, as pessoas tentavam passar despercebidas, para não chamar a atenção dos guardas. 

Um dia apareceu por ali o Antonello Sospironi. Entrou no supermercado com um estojo que continha o seu ukulele. Assim que foi enxergado por um guarda, correu para ele e grunhiu-lhe em português: 

— É proibido entrar com mochilas. Deposite-a no cacifo. 

Mas o Antonello não entendia. 

—Non capisco. Cosa vuole Lei che io faccia? (≈Não entendo. O que é que quer que eu faça?) 

À discussão uniram-se mais guardas. Um até uivou. Não falavam nenhuma língua; português, se calhar, também não. Eram muito escandalosos. 

— Mochila com pão... 

— Para o cacifo... 

— Cacifo na cabeça... 

— Auuuu ! 

Um dos guardas fez um gesto com as mãos como se tocasse violino, mas na realidade estava a coçar o braço. Porém, o Antonello entendeu algo bem diferente. 

— Adesso so che cosa volete (≈ Agora sei o que é que querem) 

Abriu o seu estojo e começou a cantar. Tinha uma voz muito bonita e tocava ukulele deliciosamente. 

Assim que começou, os guardas detiveram-se, sentaram-se no chão e seguiram as canções com palmas. Afinal do improvisado concerto, eles foram quem mais aplaudiram. 

Desde aquele dia, já ninguém teme os guardas do centro comercial, pois se algum se torna feroz, basta dar-lhes boa música, mas atenção, porque o reggaeton produz o efeito contrário.


© Frantz Ferentz, 2023


2 comentários:

Anónimo disse...

Hum interessante 🤔

Anónimo disse...

Muito top, aluna da prof Fernanda de Cascavel...😄