O avião alcançou trinta mil pés de altura, que é o que os pilotos chamam de velocidade de cruzeiro. Portanto, tudo estava a correr muito bem no voo. Porém, de repente o capitão disse ao copiloto:
— Acabo de esquecer como é que se pilota o avião.
O copiloto achou que era uma brincadeira, mas o capitão era o homem mais sério que conhecia, não se ria nem que lhe fizessem cócegas na planta dos pés.
— A sério? —perguntou o copiloto.
— A sério. Mas de repente sei tudo sobre como fabricar explosivos e fazer com que a casa de banho se torne uma bomba.
O copiloto estava a tremer de medo, porque ele não era capaz de aterrar o avião, mas não o podia confessar porque causaria um ataque geral de pânico. Decidiu ir ter com a assistente, para tal colocou o piloto automático.
Mas a assistente não teve precisamente uma reação muito profissional, pois lançou-se a correr pela cabine, enquanto gritava histérica:
— Algum passageiro a bordo sabe pilotar um avião?
Os berros de pânico começaram logo. Mas no meio daquele sarilho, um passageiro pegou no braço da assistente e disse-lhe:
— Eu, eu sei pilotar.
— O senhor é piloto?
— Não, na verdade sou terrorista. Mas de repente esqueci tudo o que sabia sobre explosivos e agora sei tudo o que é preciso saber sobre como pilotar aviões. E não sei porquê.
O copiloto e a assistente trocaram olhares. Ambos se entendiam sem palavras. Por alguma razão desconhecida, o piloto e o terrorista trocaram os seus conhecimentos. Porém, era muito urgente aterrar o avião.
— O senhor está pronto para aterrar este avião?
— Tenho a impressão de tê-lo feito mil vezes... Está bem, concordo.
O terrorista aterrou o avião quase impecavelmente, o aparelho deu um pulo quando as rodas tocaram o chão. Os passageiros aplaudiram entusiasmados, porque lhes tinham salvado a vida.
Mas depois chegou a hora das perguntas. Quem tinha causado a troca dos conhecimentos? Era evidente que quem o fez sabia das intenções do terrorista. Porém, fosse como fosse, o pulo da aterragem fez com que o bruxo ou bruxa a bordo perdesse o controlo dos seus poderes e assim um cirurgião de repente sabia tudo sobre a cria de caracóis, o criador de caracóis sabia tudo sobre técnicas de cabaleireiro, o cabaleireiro sabia tudo sobre a gramática do sânscrito, o linguista sabia tudo sobre colocar tijolos, o canteiro sabia de cor todas as leis penais do país, a advogada sabia tudo sobre mecânica de tratores... E assim foi como todos os passageiros perderam os seus conhecimentos e adquiriram os do seu vizinho de poltrona.
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