A Anabela acabava de adotar aquele cachorrinho lindo. Sempre lhe tinham explicado que era melhor adotar um animal abandonado do que comprar um.
A garota sempre tinha observado a expressão triste que tinham a maioria destes animais e não gostava de ficar sem fazer nada. Por isso, pediu à mãe:
— Á mamã, por que não adotamos um cãozinho? Olha, nesta página falam de locais onde se oferecem animais que foram abandonados e precisam um lar.A garota sempre tinha observado a expressão triste que tinham a maioria destes animais e não gostava de ficar sem fazer nada. Por isso, pediu à mãe:
A mãe não tinha qualquer vontade de ter um cão em casa. Isso significava problemas
— Eu vou ocupar-me dele, fica combinado? Prometo-o!
Muito insistiu a menina até que convenceu a mãe. Aliás, a mãe comprovou que a ideia de ter um animal de estimação em casa causava muita alegria à garota. A mãe apenas impôs uma condição:
— Mas tem que ser um cão muito pequenino, que quase nem ocupe espaço. Os cães grandes comem muito e, se se deitam no sofá, ocupam-no inteiro. Há de ser um cão muito miúdo. Fica combinado?
— Fica!
No outro dia, a Anabela já tinha um cachorro adotado. A sua raça era impossível de adivinhar. Porém, era muito pequenino. Ideal para jogar com ele. Como mudou a expressão do rosto do cão quando foi adotado pela Anabela. Parecia outro animal. Inclusivamente parecia que tinha aumentado de tamanho!
— Vou chamar-te Pirulo —disse a menina.
Porém, não tudo nesse dia ia ser felicidade.
— O duche está estragado —anunciou a mãe.
— Viva! —gritou a Anabela, que há que dizer que era um bocadinho suja e odiava tomar duche.
— Minha filha, não se pode ser tão suja. Vou ligar para o canalizador.
A alegria da Anabela durou muito pouco tempo. O canalizador veio logo e trouxe um novo duche, que ficou instalado em seguida. A reparação e a visita custaram uma pequena fortuna, por isso mãe ficou todo o dia a resmungar. E claro, afinal, o seu mau humor foi pago pela Anabela, que ouviu a sua mãe dizer:
— Quero que esse cão passe pelo duche já! Já basta de bichos sujos nesta casa!
— Estás a dizer que eu também sou um bicho? —perguntou a Anabela indignada.
— Ao duche! — foi a única resposta da mãe num tom que não admitia réplica—. Ou lavas tu o cão, ou lavo-o eu junto contigo!
A mãe era capaz de cumprir a sua ameaça. Pronto, claro que sim. A Anabela considerava que ainda não eram horas para ela tomar duche, portanto, teria que tomá-lo o Pirulo sozinho.
A menina meteu o cãozinho na banheira e desde fora começou a lavá-lo com o duche, cobrindo previamente o seu corpo com sabão, como ela achava que se tinha de fazer. Até encheu o corpo do cão com tanto sabão que inclusive parecia uma bolinha de escuma com patas. Coitado. Depois, a Anabela abriu o duche o fez sair a água para enxugar o sabão.
E aí chegou a surpresa. Quando o cão ficou sem escuma, parecia outro cão, é dizer, já não era de cor parda, mas passara para quase branco, como a escuma que o tinha coberto. Como era isso possível?
— Mamã, este cão destinge! —gritou a garota para a mãe.
A mãe veio correndo para a casa de banho.
— Que doidices estás a dizer? —perguntou.
Mas a menina não mentia. O cão já não tinha aquela cor parda com que tinha chegado a casa, mas tinha mudado para outra branquinha.
— Destinge? —quis confirmação a menina.
A mãe não queria acreditar, mas era o mais lógico.
— Talvez o que o cão tinha acima era uma capa de porcaria imensa. Como o lavaste muito bem, ficou limpinho e perdeu a capa de sujidade. Deixa lá ver com que o lavaste, filha.
A filha mostrou o sabão. Era um sabão especial, muito potente, para lavar carros.
— Donde tiraste este sabão?
— Da garagem... é que não encontrava o sabão por cá...
A mãe teve uma ideia.
— Olha, filha, lava-te tu também com este sabão. É muito bom. E tenho certeza que também a cor da tua pele vai mudar, porque há semanas que suspeito que tu não podes estar tão bronzeada em fevereiro.
— Mamã!
— Obedece, toma duche tu também com este sabão.
A Anabela obedeceu. E pronto, a mãe tinha razão, quando a menina saiu da casa de banho, a sua pele era muito mais branca.
— Mistério resolvido —sorriu a mãe—. Este sabão é tão bom, que é capaz de lavar até as peles mais porcas. Funcionou contigo e também com o cão... —concluiu a mãe.
Porém, não era mesmo assim. O mistério estava muito longe de ficar resolvido.
Naquela mesma tarde, enquanto a menina estava deitada na sua cama a ler, entrou a mãe no quarto dela e perguntou:
— Onde está o cão?
— O Pirulo?
— Pronto, temos mais algum cão nesta casa?
— Aqui deitado na cama, comigo. É que não o vês?
— Não...
A garota acariciou a cabeça do cão que estava no seu colo e o animal mexeu o rabo. A mãe apenas notou um movimento de ondas.
— Olha, não quero dizer uma tolice, mas é capaz que o cão se tenha destingido com a manta e tenha virado azul?
A Anabela só encolheu os ombros. A mãe estava muito surpreendida. Sem dizer uma palavra, foi para onde ela achava que estava o cão. Encontrou-o porque seguia a mexer o rabo. Pegou nele e levou-o outra vez para o duche. O contraste do azul do cão com o branco do duche permitiu-lhe ver o cão, que estava a gostar da situação, ele achava que aquilo era um jogo. Que engraçado. A mãe abriu o duche e deixou cair a água. Nem precisou usar aquele sabão especial, porque, assim como a água começou a molhar a pele do Pirulo, o cão virou novamente branco, como a banheira.
— Talvez o que tem um efeito especial é a água e não o sabão —pensou a mãe.
Mas já não pôde continuar com as suas pesquisas, porque o cão saltou da banheira para fora, molhado como estava e desapareceu da sua vista. E tanto foi assim, que nunca voltou a vê-lo claramente. Sabia que andava sempre pela casa porque a Anabela lhe fazia festas na cabeça e por vezes dizia que o cão sempre dormia na cama dela, mas a mãe não o via, por acaso o ouvia alguma vez ladrar baixinho, mas quando ela se aproximava dele, o Pirulo calava-se.
Tornar-se-ia um cão invisível?
De certo não. Só a Anabela soube o que acontecia com o cão. Descobriu-o enquanto navegava pela net na procura de informação sobre o seu cão. E foi assim que algum tempo depois, numa ocasião em que a mãe perguntava pelo cão, quis saber:
— Oi, Anabela, qual a raça do cão?
— Do Pirulo? É um cãomaleão.
— Um quê? Um camaleão?
— Não, um cãomaleão, é dizer, um cão camaleão. É capaz de se mimetizar como os camaleões, mas é sempre um cão.
E então, só então, a mãe compreendeu muitas coisas...
Frantz Ferentz, 2014
1 comentário:
ok franz
cumprimentos
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