quarta-feira, dezembro 29, 2010

Cando Helena desliga o sol [+6 anos].- XFC





Helena ten seis anos e o cabelo sempre recollido nunha trenza.
Un día, Helena comeza a facer unha cousa ben curiosa.
Ponse embaixo do sol, alza a man contra el e comeza a movela como se quitase unha lampadiña.

Helena fai así case todos os días.
Embaixo do sol, move o pulso para a dereita, como se puidese desenroscar o sol.
Élle moi divertido.
Pero, claro, non pasa nada.
Claro, como vai pasar calquera cousa facendo así?

Cada día, Helena pásase máis e máis tempo a xogar ao mesmo xogo:
A desligar o sol.
Tanto é así, que os seus compañeiros da clase lle preguntan cheos de curiosidade:
– Helena, que estás a facer?
E ela respóndelles:
– Estou a desenroscar o sol, como se fose unha lampadiña.
Pero os seus compañeiros da escola pensan que é un xogo aborrecido.

Tamén un día súa nai na casa lle pregunta por que está na terraza coa man alzada contra o sol.
– Porque estou a desenroscar o sol.
– Pero cariño, iso non pode suceder.
– Pode –teima ela.
E a nai deixa Helena tranquila a xogar coas súas cousas.



Até que un bo día, non amañece.
A xente toda está espantada. 
Figurádevos que son as oito, as nove, as dez, as once... e non dá saído o sol.
Que vai acontecer?

Todos están espantados, todos agás Helena.
Helena sabe moi ben por que o sol non está aceso.
Apagárao ela!
Ao final, descubrira como facelo.
E é moi doado, tanto como desenroscar unha lampadiña, pero cómpre ser moi xeitosiña.

A xente corre tola polas rúas.
Os policías piden calma, pero ninguén está calmo.
Os morcegos están contentos, porque todo o día é de noite.
E Helena sorrí, sorrí moito.
Dille á súa nai:
– Mamá, non pasa nada, fun eu que apaguei o sol.

Pero a nai, como ocorre coas persoas maiores, non o acredita.
Pensa que son cousas de neno.
Ademais, ela ten tanto medo como o resto da xente.

Con todo, a Helena non lle presta ver a xente a correr así, tan chea de medo.
E sobre todo, non lle presta ver como os pardais non saltan polo parque.
Nin como os vellos non saen tomar o sol... porque non o hai. 
Que fará súa avoa sen sentar no banco e falar cos seus amigos?

Por tanto, Helena decide saír á terraza.
Alza a man.
Comeza a movela para a esquerda.
Está a enroscar o sol.
E cabo duns segundos, o sol volve lucir.
Volve a luz.

A xente ponse moi leda.
Todo volve á normalidade.
Algúns sabios pensaran que fora un eclipse moi, moi estraño.
Pero non fora un eclipse.
Fora Helena.


Ao outro día, os compañeiros de escola de Helena pregúntanlle:
– Apagaches ti o sol?
– Claro.
E eles acredítano.
Pero os maiores non o acreditan.
Seica Helena deberá outro día volver apagar o sol desenroscándoo.

© Texto: Xavier Frías Conde, 2010

segunda-feira, dezembro 27, 2010

Vida de porco [+10 anos].- XFC

    O Jorge era um menino muito sujo. A sua mãe andava sempre trás dele para que se lavasse, para que mudasse a roupa, para que tirasse o cheiro a sujidade… Porém, o Jorge gostava demasiado da pocaria.
    O Jorge morava numa granja onde havia muitos animais, entre os quais, logicamente, porcos. O menino adorava os porcos: eles sempre estavam cobertos de porcaria, deitados na lama. Quem for um porquinho, suspirava o Jorge.
    Um dia, quando o Jorge se levantou, encontrou que na cozinha a mãe falava com alguém e não era ele precisamente. Não podia ser o pai porque estava fora de viagem nem o irmão maior. Então, quem era aquele indivíduo?
    A mãe era muito amável com ele:
    – Então, queres mais torradas? E chocolate? Está tudo bom, né?
    O Jorge estava pasmado, mas quando mãe disse:
    – Á Jorginho, queres que hoje vamos fazer compras à aldeia? Estou muito contente com a tua mudança. Se quiseres, vou comprar-te uma bola de futebol.
    Então o estranho, que seguia a estar de costas para o Jorge, sentado na cadeira, em vez de falar, grunhiu:
    – Gronh, gronh...
    O Jorge estava ainda mais surpreendido. Achegou-se até à cadeira onde estava o estranho e comprovou com horror que era um porquinho. Mas nem só isso, o porquinho ia vestido, levava mesmo gravata e óculos. Além disso, pôde comprovar que o porquinho era mais limpo do que ele, porque até para tomar o chocolate na xícara fazia menos ruido, embora não usasse as mãos.
    De repente a mãe virou-se e viu o verdadeiro Jorge:
    – O que é isto? –gritou ela– um dos porcos escapou e veio para a cozinha!
    Então apanhou a vassoura e bateu com ela no rabo do rapaz até obrigá-lo a sair de casa e entrar na corte dos porcos. Estes acolheram o seu novo companheiro com alegres "gronh" que provavelmente significavam "bem-vindo", mas isso é algo que não se pode comprovar porque na altura não havia intérprete de português-porqueiro.
    O Jorge ficou ali, sentado no meio da porcaria, a olhar como a sua mãe ia para a aldeia com o porquinho, que chamava sempre Jorge.
    Quando voltaram, duas horas depois, o porco saltava tudo contento, mesmo jogava com uma bola de futebol. O Jorge sentiu enveja. Observava toda a cena desde a pocilga, sem ser escutado pela sua mãe, que parecia não ouvir as suas lamentações.
    Uma porquinha jovem pareceu estar interessada nele. Achegava-se para o menino muito tenra, pondo olhinos lindos, grunhendo com carinho, esticando o seu fozinho para lhe transmitir o seu interesse. O Jorge estava espantado, corria pela corte a fugir dela, mas a porquinha não se rendia e ia trás dele.
    Finalmente a mãe veio trazer a comida para os porcos. Eram os restos da feijoada do meiodia. O menino já não o aturou mais. Escapou da corte e entrou em casa. A mãe não estava à vista. Porém, o porquinho estava a ver a televisão sozinho, tranquilo, a grunhir ligeiramente.
    Durante vários dias, o Jorge via desde a janela como o porquinho vivia como um rei, com todas as atenções da mãe. Sentiu muita pena, porque para além de gostar da vida dos porcos, gostava mais da sua mãe.
    Que tristeza tão grande. Assim passou uma semana em que o Jorge viveu sempre como um porco, o estilo de vida que sempre tinha querido para si.
    Porém, aquilo não podia continuar assim. Decidiu que ia recuperar o seu lugar natural em casa, como humano. Entrou em casa na ponta das dedas. Antes de nada foi tomar um duche. Lavou-se como nunca se tinha lavado na sua vida. Tirou porcaria que tinha a sua mesma idade, isto é, doze anos. Ainda chegou a pensar que era pena desfazer-se de porcaria tão antiga, que provavelmente interessaria aos arqueólogos, mas a situação era muito grave. A água que saiu do duche chegou a produzir polução mais para abaixo por causa da porcaria acumulada, mas o importante era lavar-se, lavar-se, lavar-se.
    Uma hora depois, o Jorge saiu do duche. Mesmo deitou-se colónia. Depois foi para o salão, agarrou o porquinho, tirou-lhe a roupa, incluindo o gravata e os óculos –ele de facto nunca tinha usado óculos, mas agora ia pô-los. A seguir apanhou o porquinho, levou-o para a corte e largou-o ali. A porquinha jovem, ao ver aquele porquinho ali, começou a esticar o fozinho e grunhir suavemente para ele. Era uma porquinha que se namorava muito facilmente. O Jorge, pelo seu lado, voltou para casa, sentou no sofá e ficou a ver a televisão.
    Um bocadinho depois, entrou a mãe que ficou a olhar para ele. Observou-o atentamente da cabeça para os pés, como se não o reconhecesse. O Jorge ao final disse:
    – Á, mãe, sou eu, o Jorge. É que não me reconheces?
    A mãe hesitou um bocadinho e depois disse:
    – É que por um momento pensei que eras um porquinho novo que me trouxeram ontem. Vocês são iguais. Mesmo sem esses óculos, diria que o porquinho é a tua personalidade secreta, como se fosses Superman…  Aliás, nunca te vi tão limpinho, se calhar… –mas não seguiu a falar.




    Porém, se vocês acham que o Jorge mudou para sempre, erram. O Jorge gostava imenso de ir feito um porco, de cheirar como um porco, de se tirar pela lama como um porco. Por isso, nalguns fins de semana, apanhava o porquinho da corte, punha-lhe os óculos, vestia-o e até lhe colocava a gravata e deixava-o em casa, para ele passar o fim de semana a viver como um porco. Felizmente, a porquinha namoradeira já encontrara o amor da sua vida, um grande porco que era pouco fino, mas que tinha muita enveja da capacidade do Jorge de se cobrir de lama.

© Texto: Xavier Frías Conde, 2010

domingo, dezembro 05, 2010

Alento de dragón [+10 anos].- XFC


    Nunca na vida tería sospeitado a Lorena que nun certo día se erguería e, en abrindo a boca, lanzaría lapas pola boca.
    Quen lle ía dicir a aquela rapariga de trenzas louras que se convertería nunha dragoa con aparencia humana.
    Mais era así. De repente, cando lle viñan gañas de arrotar, aventaba lume pola boca, igual ca un dragón.
    Desde o inicio xa se viu que aquilo non ía ser bo.
    Ademais de encher as paredes de nódoas pretas, corrían o risco naquel lar de saír queimados.
    Aos poucos, a nai da Lorena foi mudando todo o que era susceptíbel de aburar.
    As cortinas de seda foron substituídas por outras de chumbo, moito menos estéticas, mais polo menos seguras.
    Os cobertores da cama da Lorena foron retirados e no seu lugar usáronse láminas de aluminio.
    Se cadra pensarades que a rapariga pasaría frío así, mais xa estaba todo previsto, porque cando a rapaza arrotaba e saían as lapas pola boca, estas quentaban as láminas de aluminio e mantiñan a calor na cama.
    A Lorena tivo que se avezar a aquela nova habilidade que posuía.
    Porén, tamén lle atopou vantaxes. Por exemplo, cando á porta da escola alguén se puña farruco con ela, isto causaba inmediatamente que os gases estomacais se mobilizasen. A seguir, unha masa incandescente lle subía polo esófago e ao chegar á boca era puro lume.
    E pobre daquel que ameazase, porque, se estaba a pouca distancia, podía acabar como un polo á grella.
    Así transcorreron algunhas semanas na vida da rapariga, que tiña que tentar que, cada vez que lle viña a vontade de arrotar, debía apuntar para espazos abertos, o cal non era doado porque non sempre estaba nun posto.
    Na escola colocárona ao carón dunha xanela, mais, ademais, instalaron unha caste de cheminea pola cal a Lorena había tentar meter a cabeza cando lle viña vontade de arrotar.
    De todos os xeitos, ás veces víñalle o arroto sen aviso previo. Felizmente uns instantes antes soaba un ruído como de tubaxes –na realidade eran as tripas da Lorena–, co cal os compañeiros da sala de aulas escondíanse embaixo das mesas e así o alento de fogo da Lorena podía alcanzar o encerado sen queimar a ninguén, aínda ben.
    Con todo, chegou un momento en que a rapariga quixo volver a ser normal.
    Levárona aos doutores, a moitos deles, mais non atopaban a causa daquel estraño comportamento da rapariga. Aínda que lle daban pílulas para controlar os arrotos, aquilo non servía para nada.
    A nena-dragón, como xa a chamaban, converteuse nun caso clínico de imposíbel solución.
    A Lorena estaba moi triste, ninguén podía axudarlle.
    Imaxinaba que nunca podería bicar un rapaz, porque, se no medio do beixo, lle viña un arroto,  fritiríao completamente.
    Que panorama…
    A Lorena estaba resignada a pasar o resto da súa vida así, soa, afastada do mundo, temida pola xente.
    Mais por sorte para ela, a súa avoa Matilda acudiu na súa axuda.
    A avoa Matilda era unha avoa como poucas. Vivía no medio do monte e era unha muller moi sa, só se alimentaba do que cultivaba no seu horto. Tanto era así que, se nunha mazá aparecían vermes, comíaos igual, porque ela afirmaba que aqueles vermes eran pura proteína.
    A mamá da Lorena concordou en que durante as vacacións a filla fose pasar unha tempada coa avoa.
    Así o risco de incendio no lar diminuiría considerabelmente e poderían ter máis seguranza na casa durante a noite.
    A avoa era unha fanática das verduras.
    A Lorena odiaba as verduras con toda a súa alma.
    Non facía máis que comer repolos, couves, couves de Bruxelas, brócoles, leitugas… comíao en salada, en sopa, en puré, en salada, en sopa, en puré, en salda, en sopa, en puré…
    – Avoa, podo polo menos botarlle ketchup a isto?
    A avoa, en vez de responderlle, botáballe máis do que for.
    Até que un bo día, cando a Lorena foi arrotar, pola súa boca non saíron lapas.
    Saíu un arroto normal, como lle sae a toda a xente.
    – Avoa, xa non boto lume, son unha rapaza normal!
    A avoa, moi contenta, díxolle:
    – Xa imaxinaba eu que o teu problema era polo que comes. Ese tabasco que botas a todo acabou facendo do teu estómago unha especie de volcano. Desde que estás aquí, xa non comiches máis beicon con tabasco, costeletas con tabasco, chourizo con tabasco, touciño con tabasco, biscoitos con tabasco, ovos estrelados con tabasco, caramelos de tabasco…
    – Mais avoa, eu adoro o tabasco!
    – E o tabasco en doses brutais converteute no que te converteu. Óllate agora, estás máis magriña e tes un cutis finísimo.
    Iso era verdade.
    Se cadra, agora podería comezar a pensar en atopar un namorado… mais primeiro, se cadra, debía resolver outro pequeno problema: como desfacerse da cola de dragoa que lle saíra despois dos seus primeiros arrotos con lume. 



© Texto: Xavier Frías Conde, 2010
© Imaxe/imagem: Sara García, 2010

O baño máxico [+12 anos].- XFC


    O David estaba para entrar no baño cun libro de seiscentas quince páxinas.
    Súa nai, que o viu, non acreditaba.
    – Como podes entrar no baño cun libro así? Para que vas ao baño, para ler ou para… para… bo xa me entendes –preguntou a nai algo anoxada.
    – Vouche para as dúas cousas –explicou o David–. O baño é o lugar onde mellor se le –explicou o mozo.
    – E estarás aí metido horas e hora, non é?
    – Esaxerada…
    – O teu récord está en dúas horas e media, lembras? Foi hai dous meses, cando tivemos que traer os bombeiros para botaren a porta embaixo.
    Era verdade.
    Dous meses atrás, o David estaba tan concentrado na leitura que esqueceu completamente o tempo que levaba alí dentro.
    Por iso acudiron os bombeiros para derrubaren a porta.
    Que vergoña levou o coitado cando botaron embaixo a porta co machado e el se viu alí sentado coas calzas baixadas.
    Mais mesmo así non aprendera a lección.
    O David esquecía a noción do tempo cada vez que entraba no baño cun libro nas mans (porque, na verdade, non entraba no baño sen un libro ou sen algo que ler).
    E naquela ocasión, por riba, o libro tiña seiscentas quince páxinas.





    O David sentou e comezou a facer dúas cousas asemade que non cómpre explicar.
    E foron pasando os minutos.
    E as horas.
    O David estaba mergullado naquela historia de cabaleiros de armadura arxéntea que litigaban contra os elfos gardiáns do lume frío. Apaixonante historia, sen dúbida, que a cada pouco ía gañando en intesidade.
    O David non podía abandonar a historia xusto na páxina trescento oitenta e nove.
    Soaron uns golpes na porta do baño.
    – David, abre xa, que estamos a piques de mudar de ano! –berroulle a irmá.
    Esaxerados, mal estaban en setembro aínda.
    Cando ía pola páxina catrocentos noventa, novos golpes na porta:
    – David, quero entrar!!
    – Un chisco de paciencia.
    E incribelmente, durante o resto das páxinas, até completar as seiscentas quince, máis ninguén volveu incomodalo.
    Como era posíbel?
    O David estaba realmente estrañado.
    Ollou para o reloxo.
    A leitura daquel romance apaixonante leváralle dezoito horas, máis ou menos.
    Sentiu que tiña fame.
    Eran horas de saír.
    E saíu.
    Mais non saíu onde el esperaba…




    Cando o David saiu do baño, atopouse ás escuras.
    Aparentemente seguía na casa, mais non recoñecía aquel espazo.
    Camiñou polo corredor, en dirección a onde sabía que estaba o salón.
    Entrou.
    Mais no canto de atopar a mesa, as cadeiras, o televisor, atopou unha fogueira no medio do salón con varios encarapuchados arredor, sentados no chan, a cantaren algo parecido a cántigas rituais.
    A escuridade era case absoluta alí, excepto pola tenue iluminación que procedía da fogueira.
    Aparentemente non había xanelas.
    No chan sentaban tres persoas que cantaban baixiño.
    O David foi para onde estivera a cociña.
    Mais alí a escuridade si era absoluta.
    Na entrada, unhas arañeiras enormes, capaces de atrapar elefantes, impedían o paso.
    E do interior xurdían uns ruídos inquietantes, como se fosen as tripas dunha balea a facer a dixestión.
    O rapaz estaba asustado, moi asustado.
    Que tiña acontecido?
    Decidiu encamiñarse para o seu cuarto.
    Desfixo os seus pasos polo corredor e atopou ás toas a porta do seu cuarto.
    Abriuna.
    Mais o que alí atopou non lle gustou nada.
    Non había rastro da súa cama, da súa mesa de estudo nin do seu computador.
    En troques, había alí unha especie de bruxo que saltaba –ou bailaba– arredor doutra fogueiriña no medio do cuarto.
    Levaba unha máscara de madeira inmensa, cun machado na man.
    Outros dous encarapuchados estaban tamén alí sentados, comendo como verdadeiros animais.
    Arredor deles aparecían caveiras humanas, con resto de carne.
    Eran antropófagos!
    Onde acabara o Davide?
    Aterrado, sen control, berrou.
    E axiña correu para o baño.
    E fechouse alí.
    Sentou na taza, ás escuras.
    O corazón latexáballe a toda velocidade.
    Porén, despois de media hora, acabou adormecendo.





    O David espertou alertado polos golpes da porta do baño.
    Aos poucos entrou un bombeiro cun machado na man.
    Por sorte, daquela non estaba coas calzas polo chan, aínda que estaba sentado na taza do váter.
    O David lanzouse nos brazos do bombeiro.
    – Sálveme!
    O bombeiro non dixo nada, mais recolleuno nos brazos e sacouno do baño.
    Fóra estaba a nai do David con cara de can; díxolle:
    –  Tres días aí dentro, neno, tres días!
    Aínda nos brazos do bombeiro, o David dixo:
    –  Mamá, non o vas acreditar, fixen unha viaxe no tempo! Coido que estiven no futuro! E non sabes o que nos espera! A hecatombe!
    O bombeiro pousou o Davide no chan.
    – Anda, vai comer algo á cociña –díxolle a nai ao fillo.
    O David foi para aló sen gurgutar. Tiña fame.
    Cando o bombeiro ficou ás soas coa nai, díxolle:
    – Todo en orde, señora.
    – Obrigadiños –dixo a nai sorrindo.
    – Espero que non precisen máis da nosa axuda –comentou o bombeiro da que recollía o machado.
    – Pode ter certeza de que non –respondeu a nai sorrindo mentres vía ao fondo do corredor o seu home a esconder as caveiras de plástico cobertas de guluseimas xunto coas carapuchas e a máscara de madeira do Antroido–. Estou segura que o meu fillo non volverá ficar no baño máis do tempo necesario.

© Texto: Xavier Frías Conde, 2010


A terapia anti-estrés | A terapia anti-estresse [+12 anos].- XFC

=================================(GL)=============================
    Epifanio d'Aula acudiu ao doutor cun ataque de estrés como poucas veces se tiña visto.
    O coitado del estaba teso como un casqueiro.
    O doutor batía nas costas do home cun martelo e aquilo soaba como se fose realmente de madeira.
    Os ombros tíñaos tesos, era incapaz de movelos.
    O doutor preguntou:
    – E entón, en que traballa o señor para estar tan estresado? Nunca tal vin, para lle ser sincero.
    Epifanio d'Aula virouse facendo un estraño movemento cos pés para ficar de fronte ao doutor. Despois díxolle:
    – Verá, doutor, eu sonlle rexistrador de aves do concello.
    O doutor, nin remotamente, podía imaxinar que tal profesión existise.
    – Cónteme, logo –pediu o doutor a Epifanio d'Aula.
    – Verá, como o concello anda escaso de orzamento, eu estou só para levar o rexistro de todas as aves de máis de cincuenta gramos do concello. Por sorte, os pardais e outros paxaros non contan, mais as pombas si. Hai vinte anos, só había pombas como aves de máis de cincuenta gramos, mais arestora hai ademais gaivotas, cormoráns, papagaios, cotorras e outros. O problema é que eu debo perseguilas por toda a cidade, pórlles un anel de control, anotar o rexistro e colocarlles un chip. E cos meus anos, xa non podo con isto, porque cada vez hai máis paxaros e o concello non quer contratar máis ninguén para me axudar con este traballo.
    O doutor comprendía a gravidade do asunto.
    – Señor d'Aula, heille dar unha licenza médica. O señor non pode continuar así.
    – Mais, doutor, se eu non rexistro as aves, isto será un caos!
    – Pode ser, mais é responsabilidade do rexedor. O señor está moi doente. Nunca vin un caso de estrés como o seu, que cause tal rixidez. Heille dicir que cando o seu estrés madurece, sáenlle unha especie de froitos polas orellas. Teño a sospeita de que o seu estrés dá froitos, un caso excepcional.
    – Daquela, é grave, doutor?
    – Gravísimo.
    – Ténlleme algunha solución?
    – Téñolla. Voulle receitar unha viaxe a Alaska.
    – A Alaska? Mais alí vai unha viruxe que conxela até os pensamentos.
    – Precisamente. Vai ficar alí tres semanas. Nin unha máis. Vexa os pingüíns, os osos polares, os leóns mariños, as baleas e os botarates.
    – Os botarates?
    – Serán os bocartes.
    Xa dito, xa feito.
    O doutor deu unha licenza médica ao Epifanio d'Aula.
    Este, que era un home moi formal e sempre disciplinado, viaxou a Alaska, onde estivo as tres semanas que lle durou a licenza.
    Tivo a tentación de dedicarse a rexistrar algunhas aves das que atopaba polo seu camiño, mais as recomendacións do doutor eran moi precisas: só observar, observar e pasear, nada de traballo.
    Con todo, quitou algunhas ideas sobre como rexistrar aves para cando se reincorporase ao traballo despois da licenza.
    E unha vez cumprido o tempo, Epifanio d'Aula presentouse na consulta do doutor todo recuperado. Perdera a rixidez e até sorría espontaneamente.
    – Doutor, estou recuperado, mais quero mostrarlle algo.
    – Mostre, mostre.
    O Epifanio d'Aula puxo unha caixa enriba da mesa. Contiña dúas estalaccitas petrificadas.
    – Isto que aquí ve, doutor, comezou a me saír polo nariz, cada estalaccita por un burato. Durante os primeiros días medraban e medraban até que, ao cabo, caeron ao chan. Despois petrificaron. Pódeme dicir de que se trata?
    – Caro señor d'Aula, precisamente foi por iso que o enviei a Alaska. O que lle saía polo nariz era o seu estrés. Ao contacto co frío, conxelou e despois petrificou. O estrés aliméntase da calor, mais co frío tende a saír. Eis o seu estrés materializado. A miña teoría era certa. E agora, se non lle importa, feche a porta cando saia que hei escribir un artigo sobre esta miña experiencia. Penso que a chamarei "tratamento do estrés por medio de lufadas polares con resultado de estalaccitación nasal". Que pase un bo día e non deixe de visitarme na próxima ocasión que se estrese.

================================(PT)=============================

    Epifânio d'Aula acudiu ao doutor com um ataque de estresse como poucas vezes se tinha visto.
    O coitado dele estava teso como um casqueiro.
    O doutor batia nas costas do homem com um martelo e aquilo soava como se fosse realmente de madeira.
    Os ombros tinha-os tesos, era incapaz de movê-los.
    O doutor perguntou:
    – E então, em que trabalha o senhor para estar tão estressado? Nunca vi uma coisa assim, para lhe ser sincero.
    Epifânio d'Aula virou-se fazendo um estranho movimento com os pés para ficar de frente ao doutor. Depois disse-lhe:
    – Verá, doutor, eu sou registador de aves do concelho.
    O doutor, nem remotamente, podia imaginar que tal profissão existisse.
    – Conte-me, pronto –pediu o doutor a Epifânio d'Aula.
    – Verá, como o concelho anda escasso de orçamento, eu estou sozinho para levar o registo de todas as aves de mais de cinquenta gramas do concelho. Felizmente, os pardais e outros pássaros não contan, mas as pombas sim. Há vinte anos, só havia pombas como aves de mais de cinquenta gramas, mas a dias de hoje há, aliás, gaivotas, cormorães, papagaios, catorras e outros. O problema é que eu devo persegui-las por toda a cidade, pôr-lhes um anel de controlo, anotar o registo e colocar-lhes um chip. E com os meus anos, já nem posso com isto, porque cada vez há mais pássaros e a Câmara não quer contratar mais ninguém para me ajudar com este trabalho.
    O doutor compreendia a gravidade do assunto.
    – Senhor d'Aula, dar-lhe-ei uma licença médica. O senhor não pode continuar assim.
    – Mas, ó doutor, se eu não registo as aves, isto será um caos!
    – Pode ser, mas é responsabilidade do presidente da Câmara. O senhor está muito doente. Nunca vi um caso de estresse como o seu, que cause tal rigidez. Hei de lhe dizer que quando o seu estresse madurece, saem-lhe uma espécie de frutos pelas orelhas. Tenho a suspeita de que o seu estresse dá frutos, um caso excecional.
    – Então, é grave, doutor?
    – Gravíssimo.
    – E tem alguma solução?
    – Tenho. Vou-lhe receitar uma viagem a Alaska.
    – A Alaska? Mas ali faz um frio que congela até os pensamentos.
    – Pois é. Vai ficar lá três semanas. Justo três. Veja os pinguins, os ursos polares, os leões marinhos, as baleias e as angadopas.
    – As angadopas?
    – Serão as anchovas.
    Dito, feito.
    O doutor deu uma licença médica ao Epifânio d'Aula.
    Este, que era um homem muito formal e sempre disciplinado, viajou até Alaska, onde esteve as três semanas que lhe durou a licença.
    Teve a tentação de dedicar-se a registar algumas aves que encontrava pelo caminho, mas as recomendações do doutor eram muito precisas: só observar, observar e passear, nada de trabalho.
    Contudo, tirou algumas ideias sobre como registar aves para quando voltar ao trabalho depois da licença.
    E uma vez cumprido o tempo, Epifânio d'Aula apresentou-se na consulta do doutor todo recuperado. Tinha perdido a rigidez e até sorria espontaneamente.
    – Doutor, estou recuperado, mas quero mostrar-lhe algo.
    – Mostre, mostre.
    O Epifânio d'Aula pôs uma caixa acima da mesa. Continha duas estalaccitas petrificadas.
    – Isto que aqui vê, doutor, começou a me sair pelo nariz, cada estalaccita por um burato. Durante os primeiros dias cresciam e cresciam até que, ao final, caíram ao chão. Depois petrificaram-se. Pode-me dizer de que se trata?
    – Caro senhor d'Aula, precisamente foi por isso que o enviei a Alaska. O que lhe saía pelo nariz era o seu estresse. Ao contato com o frio, congelou-se e depois petrificou-se. O estresse alimenta-se do calor, mas com o frio tende a sair. Eis o seu estresse materializado. A minha teoria era certa. E agora, se não se importa, feche a porta quando saia que hei de escrever um artigo sobre esta experiência. Acho que a chamarei "tratamento do estresse por meio de lufadas polares com resultado de estalaccitação nasal". Que tenha um bom dia e não deixe de visitar-me na próxima ocasião que se estressar.

                                            © Texto: Xavier Frías Conde, 2010
© Imaxe/imagem: Sara García, 2010

sexta-feira, dezembro 03, 2010

O pinguim insatisfeito [+10 anos].- XFC

    Sylvia James deslocou-se a Alaska para conhecer uns parentes.
     O seu pai era daquela terra fria, embora ela tivesse nascido em Nevada.
     Um bom contraste, porque em Nevada o sol permitia fazer ovos estrelados acima de uma pedra às doze do meiodia, enquanto em Alaska era possível poupar o dinheiro de um frigorífico e bastava deixar as bebidas à porta de casa para estarem frias, mas convinha ter cuidado que não vinhesse um urso e levasse as cervejas para a cova, coisa que podia acontecer.
      A Sylvia viajou até Nome, a capital de Alaska.
     A coitada dela escolheu o inverno, que não era um bom período para visitar aquelas terras, mas… era quando tinha algo de tempo para o fazer e quando os bilhetes do avião eram mais baratos.
     Portanto, lá foi.
     Mas a família dela não morava em Nome.
     Oxalá.
     Moravam numa aldeia perdida muito mais para o norte.
     A viagem foi um horror, dentro de um veículo muito estranho que podia mover-se pela neve.
     Era uma espécie de táxi que conduzia um homem que só usava três palavras quando lhe faziam perguntas:      "Hmm", "Grr", "Pff".
     Tinham uma certa lógica, mas ninguém sabia muito bem o que significavam.
     É por isso que ele era conhecido como Mr Threewords (isto é, Senhor Três-Palavras).
     Porém, Mr Threewords era um grande condutor.
     Felizmente conduziu a Sylvia até aquela aldeia remota onde morava a sua família.
    O único que disse depois de descarregar a equipagem no chão coberto de neve foi "hmm", que talvez significava "adeus, que tenha um bom dia", ou se calhar: "ainda bem que chegamos, com licença".
     Qualquer coisa era possível com aquele homem.



* * *


     A Sylvia foi muito bem acolhida pelos parentes da Alaska. Ficaria em casa da tia Shooz, a irmã do seu pai.
     Era uma mulher muito carinhosa, mas infelizmente cheirava sempre a rum.
     Bom, de facto toda a família cheirava a rum.
     A Sylvia começou a conhecer os arredores da aldeia com a Nicole, a sua prima. Tinham quase a mesma idade.
     A Nicole tinha um costume estranho: passava o tempo a fumar num cachimbo que, segundo dizia ela, estava feito de osso de baleia.
     Portanto, a Nicole tinha um cheiro muito engraçado, onde o rum, o tabaco e outros aromas impossíveis de determinar se misturavam. Porém, o resultado não era desagradável.
     A Nicole mostrou à Sylvia aquela terra aparentemente vazia, quase sempre coberta de neve e gelo.
     A rapariga de Nevada pensava que não gostaria de viver ali, com tanto frio. Não encontrava nada, nada, nada interessante naquelas terras brancas, embora lá estivesse o mar.
     Nada, nada?
    Até aquele dia em que a Sylvia descobriu junto com a sua prima aquele bebê de pinguim que estava abandonado.



* * *


     Era um bebê, com efeito.
     A mãe não estava à vista. Com certeza qualquer coisa grave tinha-lhe acontecido para o abandonar assim.
     A Sylvia sentiu o impulso de ir recolher o penguim, que estava lá sozinho, a tremer de frio.
     Mas os pinguins tremem de frio?
     A Nicole não disse nada, porque ela também sentia pena pelo pinguinzinho abandonado. Ela sabia que, se ficava lá sozinho, morreria logo.
     Portanto, levaram o pinguim para casa.
     A tia Shooz não se estranhou muito de encontrar aquele animal lá.
     "É que gosta do rum?", perguntou ela, que queria ajudar também.
     "Acho que não", disse a Sylvia.
     "E leite, gostará do leite?", perguntou a Nicole.
     "Acho que não. É um pássaro e os pássaros não gostam do leite".
     Realmente não sabiam como alimentar aquele animalzinho tão engraçado que olhava para elas todo cheio de curiosidade, vestido tão elegante.
     Porém, nem precisaram procurar nada para o alimentar.
     Ele sozinho, o bebê pinguim, encontrou algo para comer: um bote de feijoada.
     Ninguém poderia ter imaginado que o bebê pinguim gostava dos feijões!



* * *



      O pinguim alimentava-se de feijões com troços de toucinho e crescia.
     Durante a semana seguinte, a Sylvia apenas quis ocupar-se daquele animalzinho que mantinha quente envolvido em cobertores.
     Comia com muito apetite.
     Era tão porreiro o pinguinzinho.
     Decidiu que devia pôr-lhe um nome, porque na realidade já o tinha adotado como animal de estimação.
Depois de muito pensar nisso, decidiu chamá-lo "Beanguin", por gostar dos feijões (beans) e ser um pinguim (penguin); portanto, em português podia ser traduzido como Feijuim.
     Numa tarde, a Sylvia decidiu sair passear com o seu novo animal de estimação.
     Pensou que o Beanguin ou Feijuim gostaria de correr pelo chão coberto daquela capa branca.
     Mas errou.
     Quando o pinguim sentiu aquele frio nos seus pés, fez algo muito esquisito: conseguiu escalar pelo corpo da Sylvia como se fosse um lagarto.
     O Feijuim chegou em menos de dois segundos à cabeça da Sylvia.
     E lá ficou, a olhar para o chão com terror.
     A Sylvia não podia acreditar o que acontecia.
     E a sua prima Nicole, que tinha sido testemunha de tudo, disse:
     "É a primeira vez que vejo um pinguim grimpar como um gato…"
     As duas primas ficaram em silêncio.
     E então a Nicole disse:
     "Já percebi: este pinguim é friorento! Por isso não atura o frio da neve".



* * *


     Podem imaginar a situação?
     A Sylvia estava muito preocupada.
     Chegava o momento da sua partida; devia voltar para Nevada, mas não podia deixar lá o seu adorado pinguim ao cuidado da sua prima.
     Até podia conseguir que o animalzinho começasse a fumar em cachimbo!
     A Sylvia adorava o Feijuim. O Feijuim adorava a Sylvia, não viajava na cabeça de ninguém exceto na dela.
     Tinha que encontrar a forma para levar o pinguim a Nevada.
     "Estás maluca, á prima?", dizia-lhe a Nicole. "Esse animal vai morrer lá de calor".
     "Mas aqui vai morrer de frio", respondia a Sylvia.
     Chegou o dia da partida.
     O senhor Três-Palavras veio recolhê-la para levá-la a Nome, ao aeroporto.
     Então a Sylvia pensou que aquele estranho homem, se calhar, teria qualquer ideia.
     Explicou-lhe a situação do pinguim e como ela gostaria de levá-lo consigo no avião para Nevada, mas que não sabia como.
     Durante toda a conversa, Mr Threewords não disse nem "hmm", nem "grr" nem "pff".
     Quando a rapariga acabou de falar adicionou um som novo, um que não tinha feito nunca antes, mas não havia mais ninguém lá para ouvir; por isso ninguém poderia ter proposto que lhe mudassem o nome para Mr Fourwords (senhor Quatro-Palavras).
     O que ele disse foi "eing".
     E depois fez um gesto com a mão, que podia significar: "vem comigo", ou "traz o pinguim" ou "olha que cheiro tão esquisito há por aqui".
     A Sylvia optou por levar-lhe o pinguim, que estava lá na sua cabeça.


* * *


     Ninguém sabe bem como foi, mas dois depois de a Sylvia chegar a sua casa, chegou um pacote muito grande.
     Tinha aliás um laço muito grande.
     Levava uma nota onde, além do endereço da Sylvia, aparecia uma sinatura que a rapariga reconheceu: "Hmm-Grr-Pff".
     A Sylvia abriu o pacote.
     Lá dentro havia uma gaiola, mas parecia um pequeno quarto de um hotel.
     E claro, quem estava lá?
     O Feijuim!
     A viagem foi muito cómoda para ele, com muitos botes de feijões com toucinho.
     Quando a Sylvia abriu a gaiola, o pinguim saltou para a cabeça da rapariga, mas não era necessário, porque em Nevada não há neve pelo chão.
     Se calhar, vocês estão a se preguntar como pôde viver um pinguim em Nevada.
     Bom, qualquer pinguim teria morto, mas não o Feijuim.
     O Feijuim, como pinguim friorento, adorou Nevada e viveu muito contente com a Sylvia, pois gostava de se deitar na areia e tomar o sol com óculos escuros.
     E acaba assim a história da Sylvia e dos seus animais de estimação, o pinguim Feijuim e o coelho Dionysius, que se cria um tigre e atacava os cães de caça às mordidas…
      Que não vos falei do coelho Dionysius? Desculpem, mas terá que ser noutra ocasião, agora vou jantar.
      Até a próxima.

© Xavier Frias Conde
All rights reserved worldwide

segunda-feira, novembro 01, 2010

Isto é halouín, isto é halouín [+10 anos].- XFC

    A nova mestra veu toda contenta co proxecto estrela:
    - Neste ano imos celebrar o halouín.
    - O que? -preguntaron os estudantes a coro.
    - O halouín -repetiu ela.
    - E que é iso? -preguntou Melquiades.
    - É unha cousa moderna. Trátase de facer unha festa de terror -seguiu a explicar a mestra-. Évos unha festa que celebran ano tras ano nos Estados Unidos. E vós tendes de ser modernos tamén, con que este ano imos celebralo aquí tamén. O que vos parece?
    A mestra esperaba unha resposta entusiasta dos seus estudantes, mais estes ficaron a mirala coa boca aberta, como se esperasen que pasase por alí unha mosca bombardeira, cousa pouco probábel pola altura do ano en que estaban.
    Mais a mestra non se desanimou. Decidiu torrar do proxecto e comezou a organizar a festa para os seus estudantes, que obedecían cegamente as instrucións, embora non entendesen ben de que ía todo aquilo.
    Cada un deles foi nomeado responsábel por un obxecto ou unha función do halouín.
    Ao Vicenzo encargáronlle que trouxese as cabazas para a decoración.
    Mais o Vicenzo non tiña cabazas, na casa o único que atopou foi cogombros, que para el eran relativamente parecidos. Trouxo uns cantos.
    - E logo? -exclamou a mestra case anoxada-, como queres que fagamos máscaras cos cogombros? Precisamente as cabazas son para facermos cabezas; fúranse por dentro, fánselles uns ollos e unha boca en forma de serra e despois métense candeas dentro para que iluminen e poñan medo… -explicou a boa mestra.
    Coitada. Porén, o Vicenzo comezou a traballar cunha navalla e fabricou unha cabeza de elefante co cogrombro. Medo non puña, mais tiña moita arte. Ademais, despois serviría para facer unhas boas papas de cogombro.
    A mestra explicou despois aos estudantes que debían maquillarse e vestirse con farrapos. Para iso mostroulles algunhas fotografías.
    Os rapaces pareceron comprender.
    - Señorita -dixo o Melquiades-, eu voulle vir que vai tremer de medo…
    - Aínda ben, aínda ben -exclamou a mestra pensando que, por fin, aqueles seus estudantes comezaban a entender de que ía aquilo do halouín, que, de vez, ían ser civilizados, ían celebrar como o resto de rapaces occidentais, que poñen todo o seu interese naquela festa fantástica.
    O Melquiades, no día do halouín, apareceu na sala de aula. Na realidade tratábase dunha figura altísima, cun aspecto que lembraba terribelmente ao Frankenstein, mais non era verde, era alaranxado. Daquel vulto saíu a voz do Melquiades a saudar a mestra:
    - Gusta do monstro?
    - Impresionante.
    - Alédome - e entón, o rapaz saiu de detrás do monstro e chantouse no medio da sala de aulas. Non ía disfrazado.
    Mais o peor non foi iso. O peor é que o monstro parecía ter vida propia. Por riba medía dous metros e medio. Daba pasos torpemente.
    - Melquiades! -berrou a mestra aterrada-. O que é iso?
    - Chámase Gulusemia, porque é moi doce, ou polo menos iso di o meu avó -explicou Melquiades-. Mire o que sabe facer: Gulusemia, mostra o cerebro.
    E entón, o xigante moveu unha das súas mans, quitou unha especie de caravilla dun lateral do rostro e este abriu como se fose unha portiña. Alí víanse os ollos como dúas bólas redondas e un cerebro en funcionamento do que, ás veces, saían faíscas.
    A mestra non o aturou. Largou un grito de horror que resoou en toda a escola. Despois esvaeceu.
    Cando a mestra recuperou o sentido, dúas horas despois, lembrou o que acontecera, mais non quixo falar do asunto, preferiu finxir que nada acontecera. Con todo, tomou unha semana de ferias e foi alentar os ares polucionados da cidade, que lle sentarían ben, sen dúbida. Nin remotamente volveu a propor celebrar ningunha outra festa de halouín, máis nunca.
    Un ano despois, cando chegou de novo o halouín, a mestra propuxo iren recoller cugumelos ao campo. E entón Melquiades pensou que, talvez, sería boa idea levaren Gulusemia porque era moi forte e podería cargar cun saco cheo de cugumelos. Con certeza -pensou el- á señorita prestaríalle a idea.


© Xavier Frias Conde
All rights reserved worldwide

domingo, outubro 31, 2010

O fado padriño [+10 anos].- XFC

    Aquel venres, a Leila pensou que sería bo non ter que ir a traballar. De mañá, moi cedo, abriu os ollos, mesmo antes de o espertador soar.
    - Se eu tivese unha fada madriña… -dixo en voz alta.
    Se ela tivese unha fada madriña, teríalle pedido que fixese maxia para non ter que ir traballar ese venres e mesmo algúns días despois.
    Tamén un bocadiño antes de o espertador soar, houbo un pequeno estoupido no medio do cuarto.
    E no punto do estoupido, apareceu unha pequena figura a aboiar no ar.
    - Es unha fada madriña? -preguntou a Leila.
    - Non -respondeu a figuriña mentres tusía: cof, cof, cof-. Eu sonche un fado padriño.
    - Un fado padriño?
    - Pois é.
    - E logo?
    - Pois porque finalmente está a chegar a igualdade de sexos tamén ao mundo das fadas… e dos fados.
    - Ah, paréceme moi ben. E xa ten moita experiencia?
    - Non, a verdade é que che teño pouca, mal hai unha semana que estou a traballar nisto.
    - Entendo -asentiu a Leila-, mais eu quero pedirche tres desexos.
    - Laméntoo moito -desculpouse o fado padriño-, mais acabo de comezar a miña carreira e só podo concederche un desexo.
    - Está ben: pois o meu desexo é non ir a traballar uns días.
    - Alepahou! -dixo o fado padriño movendo a súa variña.
    Inmediatamente, unha serie de virus e bacterias comezaron a cruzar o ar até se introduciren polo nariz da Leila.
    - Xa está -anunciou todo satisfeito o fado.
    - Oia, que isto non funciona -protestou a moza.
    - Home, ten que se tornar doente. Os bechiños precisan tempo até causaren a infección.
    - Pero que trangalleiro de fado padriño! -protestou a Leila.
    Mais o fado padriño xa non a ouviu.
    Esfumouse no ar, como unha burbulla que estoupa.
    Blub!
    Entrementres, a Leila tivo que ir ao traballo, en boas condicións.
    Mais cando volveu para a casa, comezou a espirrar.
    Atchís!
    Atchús!
    Finalmente estaba doente.
    A Leila acabou aledándose, porque pensou que tería para unha semana de gripe. Perdería a fin de semana, mais tamén para a semana estaría doente na casa, sen ter que traballar.
    Pagaba a pena.
*    *    *

    Chegou o luns.
    A Leila amenceu sen o espertador.
    Mais non tiña febre, nin espirraba.
    Sentíase perfectamente.
    Que fiasco.
    Aquela doenza que lle enviara o fado madriño era unha porqueira. Só lle durara dous días.
    Tivo que ir traballar, que remedio!
    Xa no escritorio, a Leila comentoulle á súa colega Samira que estivera doente por mor dun fado padriño.
    - Un fado padriño? Non digas parvadas -exclamou a colega.
    - A serio, aparecéuseme un fado padriño e concedeume un desexo.
    - Que desexo?
    - Iso non cho vou dicir -a Leila non ía contar a súa odisea; ademais, ela sabía que a súa colega do traballo era moi envexosa.
    - E tes o número de telemóbil? -preguntou a Samira.
    - O número de telemóbil de quen?
    - Do fado padriño.
    - Non digas parvadas, o fado padriño non ten iso.
    - E como o chamas?
    - Pois invócaselle.
    - Ah… E como se lle invoca? -acabou preguntando a Samira.
    - Chama por el, concentrándote.
    Así o fixo a Samira. Chamouno e aparecéuselle o mesmo fado padriño. Víase que aínda había poucos e tiñan que facer horas extras.
    - Que desexas? -preguntou o fado padriño á Samira.
    - Quero ser máis alta e ter os cabelos louros.
    - Concedido.
    O fado madriño remexeu a variña no ar.
    Os efectos foron inmediatos.
    Os tacos dos zapatos da Samira medraron sesenta centímetros, de maneira que os seus zapatos se tornaron nunha especie de zancos.
    Pero mentres a Samira facía equilibrios para non caer ao chan, caeulle medio litro de lixivia na cabeza, de maneira que os cabelos se lle tornaron louros, como ela quería.
    Porén, a Samira non soubo manter o equilibrio e caeu ao chan.
    Cando se ergueu, a coitada dela tiña negróns pola cara.
    O fado padriño, que aínda non se decatara do que acontecera, aínda dixo:
    - Anda, se até saes maquillada!
    A Samira, chea de furia, colleu un matamoscas e esmagou o fado padriño contra a parede.
    Demasiado tarde.
    O fado padriño esvaecera antes de recibir o golpe.
    Sentira a chamada dunha salchicha nun cachorro quente que estaba a piques de ser devorado.
    O que querería?

© Xavier Frias Conde
All rights reserved worldwide

segunda-feira, outubro 18, 2010

A bufanda máis longa xamais contada [+6 anos].- XFC

    Aquela tarde de inverno, a avoa Margarida comezou a tecer unha bufanda.
    Estaba sentada, quentiña, ao pé do lar na casa.
    Fóra ía un frío mortal.
    A xente non quería saír porque con aquela viruxe, cando alguén espirraba, os espirro ficaba conxelado no ar e despois era complicado quitar o espirro de xeo, máis aínda se se tiña bigote.
    Entrementres, a avoa Margarida tecía e tecía.
    Con toda a calma do mundo.
    Con todo o tempo do mundo.
    Movía as agullas de tecer cunha mestría incríbel.
    Mais aos poucos, comezaron a lle pesar as pálpebras.
    Con aquela caloriña ao pé do lar, entroulle a soneca.
    E adormeceu.
    Adormeceu a avoa Margarida.
    Mais ela seguía a tecer.
    Durmía e tecía.
    Durmía e tecía.
    A filla da avoa Margarida decatouse de que súa nai, da que durmía a soneca, seguía a tecer e tecer...
    Mais a madeixa estaba para acabar.
    Horror, coitada da nai.
    Procurou outra madeixa.
    Enganchouna a que estaba para acabar.
    E así, cando rematou a primeira madeixa, a avoa seguiu a tecer coa segunda, sen se decatar de nada, sempre a durmir, a durmir, a durmir placidamente...
    Mais entón a filla descubriu que estaba para acabar a segunda madeixa e a avoa seguía a durmir.
    Procurou por toda a casa.
    Non había máis madeixas.
    Tiña que pensar algo axiña.
    Veulle unha idea.
    Rapidamente, comezou a destecer os escarpíns do seu fillo Alfredo, que xa non os usaba.
    Eran tan bonitos, co seu filliño na punta como se fose o fociño dunha nave espacial, aínda que nos pés.
    A filla da avoa Margarida desfiou os escarpíns a toda velocidade e conseguiu facer un par de madeixas.
    Estaba segura que con aquilo abondaría.
    Con certeza, a súa nai acordaría antes de as dúas madeixas acabaren.
    Mais non.
    Enganouse novamente.
    Que ía facer?
    Acordar a avoa, non; bastaba ollar para ela e ver a cara de ledicia que tiña.
    Entón?
    Xa daquela, a bufanda que comezara a tecer comezaba a ter unhas dimensións considerábeis.
    Desde a cociña, onde comezaba, estendíase para o salón contiguo, seguía polo cuarto do Alfredo e xa case case chegaba á terraza.
    A filla da señora Margarida saíu as carreiras saltando por riba da bufanda.
    Abriu a porta da casa.
    Bateu na porta da casa da veciña.
    Contoulle o que acontecía, preguntoulle se non tería algunha madeixa para lle emprestar.
    A veciña, que lle quería ben á avoa Margarida, axiña quixo dar unha man, mais ela na realidade non tiña madeixa ningunha.
    – Só teño a ovella, a Lucía. Precisamente ela está ben provista de la neste ano. Non tivemos vagar para trasquiar nela.
    Non había máis solución.
    Levaron a ovella e apañaron as primeiras lás e axiña a avoa Margarida, sempre a adormecer, comezou a trasquiar a ovella mentres seguía a tecer...
    Aquel sono longuísimo duraba xa máis de quince horas.
    Toda a familia acabara aconcellando arredor da avoa.
    Por algunha estraña razón, ela non acordaba.
    E entrementres, a bufanda medraba e medraba.
    Era de moitas cores, todo é preciso dicilo, aínda que des que comezara a trasquiar a ovella da veciña, xa só era branca.
    Mais como non parara de tecer, a bufanda xa acabara de chegar a terraza e comezaba a despendurar pola parede de predio abaixo...
    Ninguén facía o máis mínimo ruído.
    Non querían acordar a avoa Margarida.
    E ela seguía e seguía e seguía a tecer.
    Porén, a ovella xa estaba case sen la.
    O que ían facer?
    Xusto daquela pasou unha caravana do circo pola rúa.
    Con aquela friaxe!
    Alí ían cinco elefantes á cabeza.
    E espirraban os coitados.
    Sabedes como soa un espirro de elefante?
    Nin o imaxinades.
    Mais cando se trata de cinco… son capaces de espertar toda unha cidade.
    E xustamente aqueles cinco espirros asemade fixeron acordar a avoa Margarida.
    Abriu os ollos espantada.
    Durante uns segundos aínda teceu.
    Despois detívose.
    Saíu para a terraza para ver cal era a causa daquel estrondo.
    Nin remotamente ía imaxinar ela que se tratase de espirros de elefante.
    De cinco, por riba!
    Axiña decatouse de que a súa bufanda baixaba pola parede do predio e chegaba xusto aos pés do primeiro elefante.
    E con todas as súas forzas, berroulle ao coidador dos elefantes:
    – Señor, envurulle os elefantes nesa bufanda xigante!
    O coidador decatouse de que, con efecto, alí había unha bufanda xigante que despenduraba dunha vivenda.
    Turrou dela e comezou a envurullar os pescozos dos cinco elefantes.
    Os elefantes sentíronse moi aliviados con aquela bufanda xigante.
    Despois a avoa Margarida baixou para a rúa e díxolle ao coidador dos elefantes:
    – Déame o enderezo do circo, porque vou ver se lles fago cinco gorros de la aos elefantes…
    Viva!
    Mais para iso era preciso que a avoa Margarida adormecese outra vez diante do lar…
    Porén, de onde ían quitar tanta la? Outra vez tocaría destecer peúgos, outra vez tocaría procurar unha ovella, outra vez tocaría…
    Mais esa xa é outra historia.

© Xavier Frias Conde
All rights reserved worldwide

domingo, outubro 17, 2010

O quita-mágoas [+12 anos].- XFC

     A Carmiña non reaxía a nada.
    Choraba polos recantos, sempre tiña que ir cargada con panos de papel que enchoupaba ben logo.
    Os pais estaban a gastar unha chea de diñeiro en panos de papel e en psiquiatras e psicólogos.
    E para que?
    Para nada.
    Ninguén lle descubría a aquela rapariga de quince anos tanta vontade de chorar, tanta melancolía que lle causara unha palidez constante.
    Por riba, gustaba de vestir de preto, como se seguise un loito rigoroso, co cal o seu aspecto era aínda máis impresionante.
    Mesmo a avoa terciou naquela historia.
    Ela recomendaba enviar a rapariga a facer o servizo militar.
    Mais a coitada xa rulaba mal da cabeza. Por moito que lle explicaron que o servizo militar, cando era obrigatorio, era só para homes e que agora, que era voluntario, era para mulleres, non o entendía.
    A outra avoa apenas comentou:
    - Oi, non será por que ao final lle puxestes Angustias á meniña como segundo nome?
    - Que non, avoa, que só se chama Carme, non Carme das Angustias...
    - De todas as maneiras, soaba ben iso de Carme das Angustias.
    Que mágoa de rapariga.
    Belísima mais tan melancólica...
    Tería sido unha musa dos románticos, inspiración de belos poemas de vidas esgazadas e de fabricantes de cadaleitos...
    Que pena ver así unha moza tan nova.
    A todos crebaba o corazón a súa imaxe, que parecía mesmo non tocar o chan ao camiñar, case que aboiaba...
    Podería ter ficado así para sempre, mesmo terse convertido en icona de aparición de muller morta tráxicamente nunha curva e que se aparecía aos camioneiros nas noites sen lúa.


 * * *


    Mais nada nesta vida é o que parece.
    Nesta vida todo ten dúas caras, como as moedas, ou mesmo tres, como… bo, como non sei que, como algo, que de seguro que hai algún obxecto con tres caras.
    A outra cara desa moeda era o Martiño.
    Un tipo a quen parecía que lle pesaba o corpo, inimigo da ducha (obxector de hixiene, dicía el, aducindo que usar tanta auga para quitar un pouco de cotra era atentar contra o planeta), coa guedella toda despeiteada, probabelmente unha floresta con habitantes, cuxa única paixón nesta vida era programar e ocuparse das redes sociais.
    Tiña conta en todas elas e mesmo nalgunhas que inventara el onde só estaba el con varios perfís.
    En principio, era complicado que coincidisen.
    Ben, de facto non o era tanto.
    O Martiño era amigo do Lolo.
    Que quen é o Lolo?
    O Lolo é o irmán pequeno da Carme.
    O Lolo e o Martiño eran bos amigos, inseparábeis, mais o Lolo si mantiña unha certa distancia, porque a teima de non se duchar do Martiño causaba rexeitamentos olfactivos.
    O Martiño, que normalmente non quitaba os ollos do computador, viu pasar unha sombra ao seu lado na casa do Lolo.
    Instintivamente -e insisto no de instintivamente- ergueu os ollos.
    E viuna.
    Era a Carmiña, a atravesar o salón liviá, sen causar o menor ruído cos pasos.
    - E a esa que lle pasa?
    O Lolo, entre bufidos, palabróns, arrotos, trabadas da sande, limpar os mocos e demais actividades sonoras que realizaba cando estaba normalmente diante do computador, explicoulle que a súa irmá era un becho raro que se pasaba a vida a suspirar, a camiñar como unha zombi inofensiva pola casa, sen saber de nada nin de ninguén.
    O Martiño, que tiña o seu corazonciño, embora fose embaixo de tanta capa de cotra, decidiu que el debía ser un cabaleiro e facer algo por aquela dama.
    Tocáralle a súa fibra sensíbel.
    Ergueuse e foi até o cuarto da Carmiña.
    Ela, sentada, peiteaba os seus longuísimos cabelos en silencio perante o espello.
    Suspiraba.
    Hui, como suspiraba.
    O Martiño entrou no cuarto e pechou a porta tras de si.


* * *


    Media hora máis tarde, a porta volvía abrirse.
    Mais no canto de saíren improperios, berros, insultos, saían risos, moitos risos.
    A Carmiña saíu do cuarto.
    Non tiña xa para nada aquela súa expresión dos últimos meses de angustia andante.
    Ao invés, sorría, falaba, tiña ganas de vivir.
    O Lolo, por moi concentrado que estivese no computador, non puido menos que notar aquela mudanza extraordinaria.
    Descubriu ademais que o Martiño saía do cuarto da irmá.
    Horror...
    - Martiño, dime o que pasou...
    - Nada, mano, nada, acouga. Eu fun quen de sandar a túa irmá.
    O Lolo vía aquela mudanza milagrosa.
    - O que fixeches, logo?
    - Aplicarlle á túa irmá unha técnica moi sinxela que hai que facer cos perfís de utente nas contas das redes sociais.
    O Lolo pasmaba.
    - O único que fixen -seguiu a explicar o Martiño- foi axudarlle a limpar o seu ASP, que equivale ás contas de amigos no FaceBook, por exemplo.
    - O que é ese ASP -quixo saber o Lolo.
    - O Almacén de Sentimentos polas Persoas. E a túa irmá limpouno. Descargou todas as emocións que a blocaban e agora é unha persoa nova… e até a próxima
    Despois sentou ao lado do seu amigo e continuou a trastear co computador, como se non tivese ocorrido nada.
    O Lolo abraiaba, mais non ía confesar a ninguén que un tratamento programático servía como terapía psicolóxica.
    Non señor, ía ficar moi caladiño.
© Xavier Frias Conde
All rights reserved worldwide


Obrigado por nada


    Cando abrín o bate-papo, alí estaba ela. Debía ter un sexto sentido para saber cando eu me ligaba. Era Daniela, colega da miña turma.
    Sempre reaxía como unha aguia, atenta á miña presenza para me asaltar. Aquela vez non ía ser menos. Eu era o coello, ela era a aguia, o cal quer dicir que eu era a súa presa. E tendo fame a aguia, non ía deixar pasar a súa chance de cazar. Saltou sobre min coas poutas ben abertas.
    "Ola", comezou ela.
    "Ola", respondín eu sen vontade ningunha.
    "Que tal levas o exame de física?"
    "Pss", respondín eu, por responder algo. Levábao como todos os exames de física, de cu. E ademais, non tiña vontade ningunha de falar do exame de física, había millóns de cousas de que falar, non precisamente do exame de física, mais, con todo, eu non quería falar con ela. E o máis estraño de todo era que ela insistía en comunicar comigo por aquel medio, sempre desde a casa. No instituto non se me achegaba -o cal tampouco non me causaba trauma ningún-, só comunicaba comigo polo bate-papo.
    "Eu non o levo moi ben". Continuou ela.
    > De feito non o levo.
    > Onte durmín moi mal, tiven novamente pesadelos...
    > Non entendo a vida".
    Mentres ela escribía e o campaíña do bate-papo non facía máis que soar anunciando a chegada dunha nova mensaxe (a súa capacidade de mecanografar era inmensamente rápida). Optei por ir á cociña tomar un cervexa. Seguramente ficara algunha no frigo. E da que estaba alí, quedei un chisquiño no salón a ver unhas escenas de losqueadas, couces e queixos a ranxer nun filme da tevé que pasaban daquela e que tiña o meu  totalmente enganchado.
    Cando volvín ao meu cuarto, a campaíña do bate-papo seguía a soar frenética, mensaxe tras mensaxe.
    Lin as últimas liñas:
    "… pasar o cabo pola toma traseira para que alcance o micro.
    > E sabes o que me dixo?
    > Non?
    > Pois nin imaxinas.
    > A tía cretina espétame que xa non atendía os clientes."
    Aí pensei eu que debía intervir:
    "Que cousas".
    "Claro, ves como eu teño razón?
    > Mais iso aínda non é todo.
    > Hai cousa de media hora..."
    Xusto daquela lembrei que tiña que tomar unha ducha. Se volvía a miña nai do gabinete e me atopaba así, sen tomar a ducha, ía ouvir lamentacións até o Día do Xuízo. Fun ao baño, tomei a ducha con calma, sen me estresar. Cando volvín ao cuarto, alí seguía a Daniela:
    "… na última sesión de Wall Street. E que mal me sentín.
    > Non podes imaxinar a decepción.
    > Que xentalla.
    > Que hipocrisía.
    > Tantos anos de fiúza perdidos por uns anacos de papel, unhas notas de banco que non levan a ningures..."
    Tocaba facer comentario. Tecleei:
    "Tremendo".
    ":-)
    > Mais iso non é todo..."
    Xusto daquela ligáronme do clube. Eu xogo nas fins de semana ao fútbol nunha equipa de afeccionados. Era o adestrador que quería que fose de venres para practicar o lanzamento de penaltis. Estiven a discutir con el, mais o tipo insistiu en que era a final e podiamos chegar ao lanzamento de penaltis, por iso debiamos practicar toda a equipa, se por acaso chegaba o momento fatal.
    Volvín un cuarto de hora despois ao meu cuarto. Alí seguían as campaíñas, os ataques á tecla da Daniela (é que a tipa para escribir, alén de facelo de présa, atacaba as teclas, batía nelas como se lle fose a vida niso).
    "Ben, vou ir retomando o estudo..."
    A Daniela estaba a se despedir. Viva!!
    "Obrigada pola conversa".
    Conversa? Que conversa? Desde cando o monólogo era un diálogo? Mais eu era incapaz de ser descortés.
    "Obrigado por nada", escribín.
    ":-)
    > <3 "
    En fin. "Obrigado por nada". Que elegancia, que estilo, que xenialidade de meu.
    No outro día, xusto despois do exame -do cal prefiro non falar, é parte da miña intimidade-, a Daniela achegóuseme cun sorriso inmenso. Interpretei que o exame lle correra moito ben e que estaba contenta.
    Sorría coma unha parva e ollaba para o chan. Cando unha rapariga se comporta así, sáltanme todas as alarmas. Apenas dixo:
    - Obrigada polo de onte...
    As miñas alarmas saltaron dobremente. O que aconteceu onte? O que me escribiu ela onte? Seica o meu silencio significara que eu concordaba co que ela me dixera? Debía recuperar rapidamente aquela conversa para saber o que acontecera.
    Mais non fixo falla. Ela, sen alzar os ollos do chan, díxome:
    - Obrigada polo de PAUL.
    - PAUL?
    Ela ergueu os ollos do chan e espetounos nos meus chea de inquedanza. Daquela a alarmada era ela.
    - Claro, PAUL: «Pistolas de Auga Usadas Libremente». Xa lle pasei o teu enderezo à asociación para che enviaren a documentación para te afiliares...
    Aí detívose. Comezara a sospeitar. A aguia, co coello entre as poutas, comezaba a sospeitar que lla xogaran, que aquel coello era de peluxe.
    - Porque -proseguiu- ti lías todo o que eu che escribía, non si?


© Frantz Ferentz
All rights reserved worldwide

sexta-feira, outubro 08, 2010

O DÍA EN QUE O GRANDE RÍO NON QUIXO UNIRSE AO MAR



    Todo comezou nunha mañá de verán, xusto despois de comezar o ano. Nunca na historia ocorrera tal cousa.
    Nunca.
    Non só os máis vellos do país non lembraban un acontecemento así, senón que nin as crónicas falaban del. Por iso a xente tiña medo.
    Moito medo.
    Todos estaban terribelmente asustados.
    Entón, que foi o que pasou? É complicado de explicar e aínda máis difícil de crer, mais vouno tentar. Pois o que pasou foi que o gran río Turo non conseguira chegar ao mar. Esa é a cuestión. 
    Se procurades na internet, nun buscador, onde está o río Turo, non o atoparedes. De feito, non se lle coñece por ese nome, senón por outro. Porén, os habitantes do país do río Turo non queren que se saiba que lles pasou esta historia, así que falo cos nomes mudados.
    Mais volvamos para o río Turo. Era un río inmenso que corría dun extremo a outro por todo o país. E o fixera durante miles, millóns de anos probabelmente. Entón, por que non conseguira chegar ao mar de súpeto?
    Porén, iso era moi perigoso. A cincocentos metros antes de chegar á beira, o río parou. O perigo era precisamente que se estaba a crear un lago moi grande. Se continuaba a medrar, arrasaría algunhas cidades costeiras.
    Por iso, os habitantes do país do río Turo, que chamaremos Turolandia, pediron a sabios de todo o mundo que se achegasen a coñecer cal era o problema do seu río, e por que non quería chegar ao mar.
    O presidente de Turolandia ordenou que se publicase un anuncio nos xornais de todo o mundo. Solicitaba expertos sabios no comportamento dos ríos. A xente que lía ese anuncio pensaba que pedía psicólogos fluviais.
    Ese caso atraeu a moitos curiosos. Na verdade, pagaban ben pouco por solucionar o problema (de feito era só unha colección de música popular do país e unha estatua moi fea dun artista local). Porén, esa estatua, que en teoría representaba unha chaira de Turolandia que foi hai cinco séculos, parecía máis ben un bisté acabado de fritir con patacas.
    Mais non só os sabios foron a Turolandia para ver que pasara co río Turo. Moitos curiosos tamén quixeron ver de preto por que aquel gran río, de case mil quilómetros, non quería chegar ao mar. Era coma se unha gran man invisíbel o mantivese quieto.
    O presidente e os ministros do país acudiron a ese lago creado polo río Turo. Querían ser vistos por todos. Sabían que había xornalistas de todo o mundo. Tiñan que aparecer nas fotos, si.
    Entrementres, o lago continuaba a crecer. Menos mal que era verán e o río traía pouca auga. Grazas a iso medrou moi lentamente, mais un especialista en crecemento fluvial calculou que a ese ritmo o lago chegaría ás primeiras casas nunha semana. Era moi pouco tempo. Había que reaxir axiña. Mais como?
    De seguida organizouse un congreso de sabios ao pé do lago do río Turo. Ían comentar os motivos polos que o río non chegaba ao mar.
    Cando o nivel da auga subiu, os sabios reuníronse na beira do lago. O tempo era bo e alí podíase falar moi ben. Mais como todos querían falar ao mesmo tempo, foi necesario pór un sistema de altofalantes que tivese moito eco.
    Aos turistas gustoulles. Así que, desde o principio, nin sequera se sabía quen era sabio, turista ou político, porque estaban todos xuntos e todos querían opinar.
    E mentres, o nivel da auga subía e subía no lago, sen pausa...
    As persoas que estaban máis preocupadas eran os habitantes desa zona, xa que auguraban que axiña quedarían sen fogar.
    A ninguén lle gustaba dar os bos días á súa parella e coller unha piragua atada á xanela do quinto andar para ir traballar. Os únicos contentos con esa situación foron os cativos, porque pensaban que o vindeiro mes de setembro xa non ían ter que ir á escola. Estaría baixo a auga. Arranxado!
    Terían que crear unha escola submarina ou levantar a escola de embaixo da auga e levala até o cumio dunha montaña, mais calquera solución levaría moito tempo, así que as ferias dos nenos poderían durar até febreiro!
    Porén, os máis grandes estaban moi preocupados. Os sabios comezaron a falar, porque eran expertos en resolver problemas complicados. Tamén o tentou o presidente do país, prometendo que aquela catástrofe traería ben ao país, mais ninguén escoitaba, porque sabían que quería gañar votos para as próximas eleccións.
    Un profesor coa barba até os xeonllos tomou a palabra (mellor dito, colleu o micrófono) e dixo:
    — Estimados compañeiros, creo que o problema do río é a presión angular periférica, que se exerce oblicuamente pola influencia da lúa no cuadrante...
    E deixou caer un discurso tan aborrecido que a metade dos sabios caeron durmidos e case todos os turistas marcharon.
    Mais se o sabio desde a barba até os xeonllos era aborrecido, non menos era unha súa compañeira que levaba un parachuvias amarelo que, segundo os raios do sol, mudaba de cor, a vermella ou laranxa. Entón, cando a señora se movía, parecía un semáforo. O conselleiro do Tránsito pensou que este sistema podería solucionar o problema da circulación cando os semáforos deixaban de funcionar.
    Mais a muller sabia era aínda máis tediosa que a súa colega falando da influencia da rotación dos grans de area no movemento do péndulo de Neptuno baixo a influencia do asteroide XL-209. Ese nome fixo pensar a moitos que falaba de tallas de camisa.
    Pois en realidade falaron e falaron moitos sabios que expuxeron as súas teorías sobre o estraño caso do río Turo, mais ningunha teoría convenceu a ninguén.
    E así foi un día.
    E até dous.
    E o nivel continuaba a subir.
    Entón, no medio daquel congreso, apareceu un vello mariñeiro coas botas de goma medio desfeitas e unha barba de tres días dura coma as púas dun ourizo. Aquel vello mariñeiro non se adicaba a saudar formalmente a xente como facían os sabios. Con todo, inmediatamente dixo o que pensaba:
    — A única cousa que lle pasa ao río Turo é que ten medo.
    Os sabios e os políticos que escoitaron aquelas palabras por primeira vez puxéronse moi serios. Entón os risos comezaron a resoar pola pradaría.
    Porén, aqueles risos cesaron inmediatamente cando ao carón do vello mariñeiro estaban media ducia de compañeiros, tan mal vestidos coma el, mais coa mesma barba vizosa.
    O conselleiro da Pesca quixo intervir, mais non puido, non lle deixaron levar o micrófono.
    — Ríde canto queirades —dixo o mariñeiro moi serio—, mais o río ten medo.
    Un dos sabios ergueuse e preguntou coas lentes na man:
    — Como podes dicir tal cousa? Non ten fundamento científico.
    Os outros sabios murmuraban entre si, apoiando a falta de criterios científicos para esa afirmación.
    Os políticos, pola súa banda, calaron porque non sabían que dicir nese momento. Tampouco poderían facer ningunha promesa.
    Mais entón unha turista co fillo en brazos, do centro de Europa, toda torrada polo sol, colocouse cabo dos mariñeiros. Era un dos poucos visitantes que ficara naquela asemblea de sabios porque lle gustaba escoitar palabras que non significaban moito.
    Ela explicou:
    — Xa antes de comezar esta historia, meu fillo díxome que non quería bañarse no mar. E sabedes por que?
    Houbo un gran silencio. Só se deixaron escoitar uns cantos mosquitos que buscaban sangue científico, rico en hidratos de carbono.
    — El, o meu fillo, este que teño entre brazos, díxome: «Mamá, o mar dáme medo». Entendedes?
    De novo un gran silencio pasou pola asemblea. A uns centos de metros, ao outro lado do río, xa máis ben un lago, un vendedor ambulante que vendía colares, aneis e perrucas gritaba a súa mercadoría.
    O sabio que preguntara antes volveu tomar a palabra e quixo saber:
    — Entón, por que o teu fillo non quería bañarse no mar?
    E a turista preguntoulle ao seu fillo co micrófono na man:
    — A proč ses nechtěl vykoupat v moři
    — Protože bylo moc špinavé —respondeu o seu fillo sen hesitar.
    Os cientistas miraron a aquela nai a falar co seu fillo nalgunha lingua estranxeira de Centroeuropa. Foi moi conmovedor. Pero a situación era moi grave e as palabras do rapaz podían revelar a triste realidade do que estaba a pasar co río.
    Entón, a nai traduciu as palabras do seu fillo:
    — Dixo que non se bañaba porque o mar estaba moi porco.
    Os sabios soltaron un suspiro de sorpresa. Tamén os políticos, porque imitaron aos sabios. Os mariñeiros, porén, aplaudiron, porque aquel rapaz acababa de explicar o que realmente estaba a pasar. Mais os cientistas non podían aceptar que o río Turo tivese medo ao mar porque estaba porco. Iso non tiña ningún fundamento científico.
    Porén, os maiores da zona explicáronlles a aqueles señores e damas de grandes cérebros que o mar e o río eran seres vivos. E como os seres vivos, tiñan sentimentos e sensacións. Así que o río decidira que non quería chegar ao mar porque lle asustaba a porqueira.
     O presidente do país tivo que limpar o mar. Non é que o limpase el mesmo, mais tivo que investir moitos cartos para limpalo axiña, antes de o río chegar ás primeiras casas da beira.
     Foi algo terríbel, mais ao final, o fillo da turista centroeuropeo foi o primeiro en saír ao mar. Estaba limpo. E uns segundos despois, o río deixou de medrar naquel lago.
     Deu un estrondo moi forte, coma se de súpeto se rompera unha parede invisíbel. E unha inmensa fervenza de auga recuperou o seu camiño habitual e mesturouse co mar, como sempre fora.
   Os únicos que ficaron un pouco desiludidos foron os nenos e nenas, porque ao fin e ao cabo volverían ter clases en setembro. Non habería clases submarinas, nin levarían a escola até o alto dun outeiro. 
    Porén, esa xa é outra historia. 

© Frantz Ferentz
All rights reserved worldwide

domingo, setembro 05, 2010

Há vida além da televisão? [+12 anos] .- Xafrico



[1]



    Dom Feliciano, professor de ensino elementar após quarenta anos, estava para se reformar.
    Dom Feliciano tinha tido estudantes de todos os géneros ao longo da sua comprida carreira, bons e maus, inteligentes e estúpidos, generosos e avaros...
    Mas Dom Feliciano nunca, absolutamente nunca, tinha tido dois estudantes como a Valéria e o Filipe.
    Não é que fossem rapazes ruins, nem tivessem ideias perigosas.
    Não, simplesmente eram rapazes cuja vida corria entre a casa e a escola.
    Não conheciam mais nada.
    Era uma vida com uns conhecimentos muito fracos, porque quase todas as coisas que sabiam foram apreendidas na televisão.
    Dom Feliciano estava muito preocupado por eles.
    Antes de ele se reformar, gostaria que aqueles dois estudantes, que aliás eram irmãos, tivessem alguma experiência real, alguma experiência que não viesse da televisão.
    A sua preocupação começou quando leu os exames deles.
    A pergunta era muito simples, qualquer rapaz normal teria sabido responder, mas eles não.
    Pergunta: Donde procede o leite que consumimos nas casas?
    Resposta do Filipe: Do cartão.
    Resposta da Valéria: Do supermercado.
    Todos os colegas da turma sabiam que o leite procede das vacas, mas eles não.
    Mesmo nem sabiam o que era uma vaca, ou pelo menos tinham uma ideia um bocadinho estranha do que era aquele animal.
    - Eu vi uma vaca, dom Feliciano -disse a Valéria-. Era de plástico, com a superfície branca e com pintas pretas. Mesmo montei nela na feira. Era gira!
    A Valéria referia-se a uma vaca de um carrossel em que tinha montado.
    Porém, o Filipe tinha uma outra experiência do que era uma vaca:
    - Á, pá, eu sim que sei o que é uma vaca. Nos meus álbuns de banda desenhada há uma vaca que é um super-herói. Sempre bate os malandros com os seus turbo-cornos, mas ela sempre leva um antiface e ninguém lhe conhece a verdadeira personalidade.
    Dom Feliciano estava desesperado com aqueles dois.
    Por isso, convenceu os pais da Valéria e do Filipe para os deixarem frequentar uma excursão escolar.
    Tratava-se de uma excursão a uma fazenda-escola.
    Seria apenas um dia.
    A mãe chorava toda cheia de preocupação.
    - E se fossem atacados por tigres ou baleias, professor? -dizia ela entre soluços
    - Minha senhora, não há nada disso -respondia o velho mestre todo cheio de paciência, mas já começava a compreender que o problema dos meninos se remontava pelo menos a uma geração acima.
    Finalmente, a Valéria e o Filipe partiram com os seus colegas para a excursão à fazenda-escola.



[2]


    Dom Feliciano acompanhou os seus estudantes naquela excursão à fazenda-escola.
    Sabia que seria a última excursão que faria antes de se reformar.
    Ele já precisava descansar um bocadinho, coitado mestre.
    Porém, ele estava muito preocupado pelos dois irmãos.
    Como reagiriam no campo? Embora parecesse incrível, aqueles dois rapazes não sabiam realmente o que era o campo.
    Quando desceram do autocarro, foram recebidos por uma monitora muito simpática, a Sandra.
    Ela começou a falar como uma locomotora, sem deixar mesmo que os rapazes lhe fizessem qualquer pergunta.
    Começou a guiá-los pelas instalações, a mostrar-lhes tudo o que lá havia, a começar pelos animais.
    - Á professor, a minha mãe tem razão -disse de repente o Albertinho-, estão a dar muita porcaria às galinhas ultimamente para comer. Olhe como é grande esta e que ovos ela põe...
    - Albertinho, és um ignorante -renhiu o mestre-. Isso não é uma galinha gigante, é um avestruz e os ovos que pões sãos os seus, os normais.
    O Albertinho ficou calado porque todos os seus companheiros riam.
    Dom Feliciano comprovou que nem só a Valéria e o Filipe desconheciam a natureza.
    A Sandra continuou com o seu passeio até chegarem ao local onde estavam os cavalos.
    - Estes, meus amiguinhos, são cavalos -disse ela com um sorriso enorme enquanto acenava para os animais-. Gostam deles?
    Cinco cavalos moviam-se lentamente dentro do valado.
    - Á, senhorita -quis saber na altura a Joana-, e leões, tem leões aqui?
    A Sandra riu.
    - Não, não temos leões. São muito perigosos. Eles até comem as pessoas.
    - Mas então têm tigres, não é? -insistiu a Joana.
    - Também não, são muito perigosos.
    - Mas eu vi lá um... Era pequenino, mas era um tigre.
    A Sandra não percebia.
    Então viram aparecer trás uma esquina um velho gato com riscos alaranjados que mal tinha vontade de caminhar. Por isso deitou-se à sombra duma árvore.
    - Isso não é um tigre -explicou a Sandra, que já começava ela também a se espantar da ignorância daqueles rapazes-. É o Lucas, o gato da fazenda. É muito velho, mas é inofensivo...
    - Aáááá -foi a resposta unânime de todos os estudantes.
    - Meninos, depois vamos ordenhar as vacas, mas antes vamos à horta para verem as plantas que lá temos.
    A turma foi para o horto.
    Que emoção.
    Nunca viram os frutos nas plantas.
    A Vergília grito de repente:
    - Senhorita, estas cenouras foram enforcadas por essa planta malandra!
    A Sandra virou-se.
    O que a Vergília via eram umas cenouras a pendurar da planta.
    - Não, menina. É aí que nascem as cenouras, da planta.
    - Eu pensava que as cenouras nasciam nas caixas! -exclamou a Vergília.
    Dom Feliciano sentia-se muito deprimido.
    Aquilo era muito pior do que ele pensava.
    A Sandra não sabia se escrever um livro de anedotas com aqueles garotos ou se fingir que havia um ataque bacteriológico e mandar evacuar a fazenda.
    - Então, os morangos também nascem duma planta?
    - Pois é...
    - E os feijões?
    - Pois é...
    - Mas então, esta planta tem que ser muito má, porque quer que a batata fique lá enterrada. É muito cruel -disse depois a Vergília.
    - Á, mas as batatas não são essas coisas amarelas que flutuam no azeite que vêm sempre com os hambúrgueres? -perguntou na altura o Zé, que tinha face de ter feito a descoberta mais importante depois da roda.
    A Sandra começou a comer as unhas.
    Estava desesperada.
    Dom Feliciano contava os dias que lhe restavam para se reformar, mas ainda tinha que acabar aquele dia.



[3]



    Depois do almoço chegou o momento mais importante do dia.
    Tocava ordenhar as vacas.
    Primeiro, os rapazes viram um vídeo onde se explicava como se fazia aquela atividade.
    Nenhum deles sabia o que eram os ubres.
    Era uma coisa esquisita.
    A Manuela perguntou:
    - E então, porque as vacas não levam sutiã? Tem que ser muito cansativo andar assim com as tetas a pendurar, não é?
    A Sandra sentiu que uma lágrima tentava sair.
    Depois do vídeo, conduziu a turma até a corte.
    Lá havia meia dúzia de vacas.
    Um dos trabalhadores da fazenda começou a ordenhar uma vaca.
    Todos os rapazes olhavam para aquela atividade com muito interesse.
    E então começou a sair o leite.
    - Pare, pare, pare!! -gritou o Filipe ao homem que ordenhava a vaca.
    - O que se passa? -perguntou ele assustado.
    - Não vê que está a lhe causar muito sofrimento à vaca? Está a lhe produzir sangue, embora seja sangue branco.
    - Isso não é sangue, é leite! -explicou a Sandra-. Não interrompam mais e observem.
    A Sandra, na altura, decidiu que não ia permitir que os rapazes ordenhassem qualquer vaca.
    Seriam capazes de lhes extrair mesmo os cornos.

   
 * * *


    Tudo nesta vida tem um final.
    Não sabemos se o final desta história é feliz ou não, mas o pesadelo para a Sandra e para Dom Feliciano também acabou.
    Ela teve que ir ao médico e pedir uma licença por ataque de nervos.
    Ele conseguiu adiantar a sua reforma pelo seu estado de desesperação.
    Porém, antes de se despedir dos seus estudantes, ainda lhes fez um exame.
    Uma das perguntas foi: O que é uma vaca?
    A resposta da Valéria foi: É uma coisa grande que faz "muu" e que serve para matar moscas porque tem um rabo muito grande.
    A resposta do Filipe foi: É uma fábrica de leite com quatro patas, dois cornos de viking e quatro tetas.
    É que não o acreditam?

© Xavier Frías Conde
All rights reserved worldwide