quarta-feira, dezembro 29, 2010

Cando Helena desliga o sol [+6 anos].- XFC





Helena ten seis anos e o cabelo sempre recollido nunha trenza.
Un día, Helena comeza a facer unha cousa ben curiosa.
Ponse embaixo do sol, alza a man contra el e comeza a movela como se quitase unha lampadiña.

Helena fai así case todos os días.
Embaixo do sol, move o pulso para a dereita, como se puidese desenroscar o sol.
Élle moi divertido.
Pero, claro, non pasa nada.
Claro, como vai pasar calquera cousa facendo así?

Cada día, Helena pásase máis e máis tempo a xogar ao mesmo xogo:
A desligar o sol.
Tanto é así, que os seus compañeiros da clase lle preguntan cheos de curiosidade:
– Helena, que estás a facer?
E ela respóndelles:
– Estou a desenroscar o sol, como se fose unha lampadiña.
Pero os seus compañeiros da escola pensan que é un xogo aborrecido.

Tamén un día súa nai na casa lle pregunta por que está na terraza coa man alzada contra o sol.
– Porque estou a desenroscar o sol.
– Pero cariño, iso non pode suceder.
– Pode –teima ela.
E a nai deixa Helena tranquila a xogar coas súas cousas.



Até que un bo día, non amañece.
A xente toda está espantada. 
Figurádevos que son as oito, as nove, as dez, as once... e non dá saído o sol.
Que vai acontecer?

Todos están espantados, todos agás Helena.
Helena sabe moi ben por que o sol non está aceso.
Apagárao ela!
Ao final, descubrira como facelo.
E é moi doado, tanto como desenroscar unha lampadiña, pero cómpre ser moi xeitosiña.

A xente corre tola polas rúas.
Os policías piden calma, pero ninguén está calmo.
Os morcegos están contentos, porque todo o día é de noite.
E Helena sorrí, sorrí moito.
Dille á súa nai:
– Mamá, non pasa nada, fun eu que apaguei o sol.

Pero a nai, como ocorre coas persoas maiores, non o acredita.
Pensa que son cousas de neno.
Ademais, ela ten tanto medo como o resto da xente.

Con todo, a Helena non lle presta ver a xente a correr así, tan chea de medo.
E sobre todo, non lle presta ver como os pardais non saltan polo parque.
Nin como os vellos non saen tomar o sol... porque non o hai. 
Que fará súa avoa sen sentar no banco e falar cos seus amigos?

Por tanto, Helena decide saír á terraza.
Alza a man.
Comeza a movela para a esquerda.
Está a enroscar o sol.
E cabo duns segundos, o sol volve lucir.
Volve a luz.

A xente ponse moi leda.
Todo volve á normalidade.
Algúns sabios pensaran que fora un eclipse moi, moi estraño.
Pero non fora un eclipse.
Fora Helena.


Ao outro día, os compañeiros de escola de Helena pregúntanlle:
– Apagaches ti o sol?
– Claro.
E eles acredítano.
Pero os maiores non o acreditan.
Seica Helena deberá outro día volver apagar o sol desenroscándoo.

© Texto: Xavier Frías Conde, 2010

segunda-feira, dezembro 27, 2010

Vida de porco [+10 anos].- XFC

    O Jorge era um menino muito sujo. A sua mãe andava sempre trás dele para que se lavasse, para que mudasse a roupa, para que tirasse o cheiro a sujidade… Porém, o Jorge gostava demasiado da pocaria.
    O Jorge morava numa granja onde havia muitos animais, entre os quais, logicamente, porcos. O menino adorava os porcos: eles sempre estavam cobertos de porcaria, deitados na lama. Quem for um porquinho, suspirava o Jorge.
    Um dia, quando o Jorge se levantou, encontrou que na cozinha a mãe falava com alguém e não era ele precisamente. Não podia ser o pai porque estava fora de viagem nem o irmão maior. Então, quem era aquele indivíduo?
    A mãe era muito amável com ele:
    – Então, queres mais torradas? E chocolate? Está tudo bom, né?
    O Jorge estava pasmado, mas quando mãe disse:
    – Á Jorginho, queres que hoje vamos fazer compras à aldeia? Estou muito contente com a tua mudança. Se quiseres, vou comprar-te uma bola de futebol.
    Então o estranho, que seguia a estar de costas para o Jorge, sentado na cadeira, em vez de falar, grunhiu:
    – Gronh, gronh...
    O Jorge estava ainda mais surpreendido. Achegou-se até à cadeira onde estava o estranho e comprovou com horror que era um porquinho. Mas nem só isso, o porquinho ia vestido, levava mesmo gravata e óculos. Além disso, pôde comprovar que o porquinho era mais limpo do que ele, porque até para tomar o chocolate na xícara fazia menos ruido, embora não usasse as mãos.
    De repente a mãe virou-se e viu o verdadeiro Jorge:
    – O que é isto? –gritou ela– um dos porcos escapou e veio para a cozinha!
    Então apanhou a vassoura e bateu com ela no rabo do rapaz até obrigá-lo a sair de casa e entrar na corte dos porcos. Estes acolheram o seu novo companheiro com alegres "gronh" que provavelmente significavam "bem-vindo", mas isso é algo que não se pode comprovar porque na altura não havia intérprete de português-porqueiro.
    O Jorge ficou ali, sentado no meio da porcaria, a olhar como a sua mãe ia para a aldeia com o porquinho, que chamava sempre Jorge.
    Quando voltaram, duas horas depois, o porco saltava tudo contento, mesmo jogava com uma bola de futebol. O Jorge sentiu enveja. Observava toda a cena desde a pocilga, sem ser escutado pela sua mãe, que parecia não ouvir as suas lamentações.
    Uma porquinha jovem pareceu estar interessada nele. Achegava-se para o menino muito tenra, pondo olhinos lindos, grunhendo com carinho, esticando o seu fozinho para lhe transmitir o seu interesse. O Jorge estava espantado, corria pela corte a fugir dela, mas a porquinha não se rendia e ia trás dele.
    Finalmente a mãe veio trazer a comida para os porcos. Eram os restos da feijoada do meiodia. O menino já não o aturou mais. Escapou da corte e entrou em casa. A mãe não estava à vista. Porém, o porquinho estava a ver a televisão sozinho, tranquilo, a grunhir ligeiramente.
    Durante vários dias, o Jorge via desde a janela como o porquinho vivia como um rei, com todas as atenções da mãe. Sentiu muita pena, porque para além de gostar da vida dos porcos, gostava mais da sua mãe.
    Que tristeza tão grande. Assim passou uma semana em que o Jorge viveu sempre como um porco, o estilo de vida que sempre tinha querido para si.
    Porém, aquilo não podia continuar assim. Decidiu que ia recuperar o seu lugar natural em casa, como humano. Entrou em casa na ponta das dedas. Antes de nada foi tomar um duche. Lavou-se como nunca se tinha lavado na sua vida. Tirou porcaria que tinha a sua mesma idade, isto é, doze anos. Ainda chegou a pensar que era pena desfazer-se de porcaria tão antiga, que provavelmente interessaria aos arqueólogos, mas a situação era muito grave. A água que saiu do duche chegou a produzir polução mais para abaixo por causa da porcaria acumulada, mas o importante era lavar-se, lavar-se, lavar-se.
    Uma hora depois, o Jorge saiu do duche. Mesmo deitou-se colónia. Depois foi para o salão, agarrou o porquinho, tirou-lhe a roupa, incluindo o gravata e os óculos –ele de facto nunca tinha usado óculos, mas agora ia pô-los. A seguir apanhou o porquinho, levou-o para a corte e largou-o ali. A porquinha jovem, ao ver aquele porquinho ali, começou a esticar o fozinho e grunhir suavemente para ele. Era uma porquinha que se namorava muito facilmente. O Jorge, pelo seu lado, voltou para casa, sentou no sofá e ficou a ver a televisão.
    Um bocadinho depois, entrou a mãe que ficou a olhar para ele. Observou-o atentamente da cabeça para os pés, como se não o reconhecesse. O Jorge ao final disse:
    – Á, mãe, sou eu, o Jorge. É que não me reconheces?
    A mãe hesitou um bocadinho e depois disse:
    – É que por um momento pensei que eras um porquinho novo que me trouxeram ontem. Vocês são iguais. Mesmo sem esses óculos, diria que o porquinho é a tua personalidade secreta, como se fosses Superman…  Aliás, nunca te vi tão limpinho, se calhar… –mas não seguiu a falar.




    Porém, se vocês acham que o Jorge mudou para sempre, erram. O Jorge gostava imenso de ir feito um porco, de cheirar como um porco, de se tirar pela lama como um porco. Por isso, nalguns fins de semana, apanhava o porquinho da corte, punha-lhe os óculos, vestia-o e até lhe colocava a gravata e deixava-o em casa, para ele passar o fim de semana a viver como um porco. Felizmente, a porquinha namoradeira já encontrara o amor da sua vida, um grande porco que era pouco fino, mas que tinha muita enveja da capacidade do Jorge de se cobrir de lama.

© Texto: Xavier Frías Conde, 2010

domingo, dezembro 05, 2010

Alento de dragón [+10 anos].- XFC


    Nunca na vida tería sospeitado a Lorena que nun certo día se erguería e, en abrindo a boca, lanzaría lapas pola boca.
    Quen lle ía dicir a aquela rapariga de trenzas louras que se convertería nunha dragoa con aparencia humana.
    Mais era así. De repente, cando lle viñan gañas de arrotar, aventaba lume pola boca, igual ca un dragón.
    Desde o inicio xa se viu que aquilo non ía ser bo.
    Ademais de encher as paredes de nódoas pretas, corrían o risco naquel lar de saír queimados.
    Aos poucos, a nai da Lorena foi mudando todo o que era susceptíbel de aburar.
    As cortinas de seda foron substituídas por outras de chumbo, moito menos estéticas, mais polo menos seguras.
    Os cobertores da cama da Lorena foron retirados e no seu lugar usáronse láminas de aluminio.
    Se cadra pensarades que a rapariga pasaría frío así, mais xa estaba todo previsto, porque cando a rapaza arrotaba e saían as lapas pola boca, estas quentaban as láminas de aluminio e mantiñan a calor na cama.
    A Lorena tivo que se avezar a aquela nova habilidade que posuía.
    Porén, tamén lle atopou vantaxes. Por exemplo, cando á porta da escola alguén se puña farruco con ela, isto causaba inmediatamente que os gases estomacais se mobilizasen. A seguir, unha masa incandescente lle subía polo esófago e ao chegar á boca era puro lume.
    E pobre daquel que ameazase, porque, se estaba a pouca distancia, podía acabar como un polo á grella.
    Así transcorreron algunhas semanas na vida da rapariga, que tiña que tentar que, cada vez que lle viña a vontade de arrotar, debía apuntar para espazos abertos, o cal non era doado porque non sempre estaba nun posto.
    Na escola colocárona ao carón dunha xanela, mais, ademais, instalaron unha caste de cheminea pola cal a Lorena había tentar meter a cabeza cando lle viña vontade de arrotar.
    De todos os xeitos, ás veces víñalle o arroto sen aviso previo. Felizmente uns instantes antes soaba un ruído como de tubaxes –na realidade eran as tripas da Lorena–, co cal os compañeiros da sala de aulas escondíanse embaixo das mesas e así o alento de fogo da Lorena podía alcanzar o encerado sen queimar a ninguén, aínda ben.
    Con todo, chegou un momento en que a rapariga quixo volver a ser normal.
    Levárona aos doutores, a moitos deles, mais non atopaban a causa daquel estraño comportamento da rapariga. Aínda que lle daban pílulas para controlar os arrotos, aquilo non servía para nada.
    A nena-dragón, como xa a chamaban, converteuse nun caso clínico de imposíbel solución.
    A Lorena estaba moi triste, ninguén podía axudarlle.
    Imaxinaba que nunca podería bicar un rapaz, porque, se no medio do beixo, lle viña un arroto,  fritiríao completamente.
    Que panorama…
    A Lorena estaba resignada a pasar o resto da súa vida así, soa, afastada do mundo, temida pola xente.
    Mais por sorte para ela, a súa avoa Matilda acudiu na súa axuda.
    A avoa Matilda era unha avoa como poucas. Vivía no medio do monte e era unha muller moi sa, só se alimentaba do que cultivaba no seu horto. Tanto era así que, se nunha mazá aparecían vermes, comíaos igual, porque ela afirmaba que aqueles vermes eran pura proteína.
    A mamá da Lorena concordou en que durante as vacacións a filla fose pasar unha tempada coa avoa.
    Así o risco de incendio no lar diminuiría considerabelmente e poderían ter máis seguranza na casa durante a noite.
    A avoa era unha fanática das verduras.
    A Lorena odiaba as verduras con toda a súa alma.
    Non facía máis que comer repolos, couves, couves de Bruxelas, brócoles, leitugas… comíao en salada, en sopa, en puré, en salada, en sopa, en puré, en salda, en sopa, en puré…
    – Avoa, podo polo menos botarlle ketchup a isto?
    A avoa, en vez de responderlle, botáballe máis do que for.
    Até que un bo día, cando a Lorena foi arrotar, pola súa boca non saíron lapas.
    Saíu un arroto normal, como lle sae a toda a xente.
    – Avoa, xa non boto lume, son unha rapaza normal!
    A avoa, moi contenta, díxolle:
    – Xa imaxinaba eu que o teu problema era polo que comes. Ese tabasco que botas a todo acabou facendo do teu estómago unha especie de volcano. Desde que estás aquí, xa non comiches máis beicon con tabasco, costeletas con tabasco, chourizo con tabasco, touciño con tabasco, biscoitos con tabasco, ovos estrelados con tabasco, caramelos de tabasco…
    – Mais avoa, eu adoro o tabasco!
    – E o tabasco en doses brutais converteute no que te converteu. Óllate agora, estás máis magriña e tes un cutis finísimo.
    Iso era verdade.
    Se cadra, agora podería comezar a pensar en atopar un namorado… mais primeiro, se cadra, debía resolver outro pequeno problema: como desfacerse da cola de dragoa que lle saíra despois dos seus primeiros arrotos con lume. 



© Texto: Xavier Frías Conde, 2010
© Imaxe/imagem: Sara García, 2010

O baño máxico [+12 anos].- XFC


    O David estaba para entrar no baño cun libro de seiscentas quince páxinas.
    Súa nai, que o viu, non acreditaba.
    – Como podes entrar no baño cun libro así? Para que vas ao baño, para ler ou para… para… bo xa me entendes –preguntou a nai algo anoxada.
    – Vouche para as dúas cousas –explicou o David–. O baño é o lugar onde mellor se le –explicou o mozo.
    – E estarás aí metido horas e hora, non é?
    – Esaxerada…
    – O teu récord está en dúas horas e media, lembras? Foi hai dous meses, cando tivemos que traer os bombeiros para botaren a porta embaixo.
    Era verdade.
    Dous meses atrás, o David estaba tan concentrado na leitura que esqueceu completamente o tempo que levaba alí dentro.
    Por iso acudiron os bombeiros para derrubaren a porta.
    Que vergoña levou o coitado cando botaron embaixo a porta co machado e el se viu alí sentado coas calzas baixadas.
    Mais mesmo así non aprendera a lección.
    O David esquecía a noción do tempo cada vez que entraba no baño cun libro nas mans (porque, na verdade, non entraba no baño sen un libro ou sen algo que ler).
    E naquela ocasión, por riba, o libro tiña seiscentas quince páxinas.





    O David sentou e comezou a facer dúas cousas asemade que non cómpre explicar.
    E foron pasando os minutos.
    E as horas.
    O David estaba mergullado naquela historia de cabaleiros de armadura arxéntea que litigaban contra os elfos gardiáns do lume frío. Apaixonante historia, sen dúbida, que a cada pouco ía gañando en intesidade.
    O David non podía abandonar a historia xusto na páxina trescento oitenta e nove.
    Soaron uns golpes na porta do baño.
    – David, abre xa, que estamos a piques de mudar de ano! –berroulle a irmá.
    Esaxerados, mal estaban en setembro aínda.
    Cando ía pola páxina catrocentos noventa, novos golpes na porta:
    – David, quero entrar!!
    – Un chisco de paciencia.
    E incribelmente, durante o resto das páxinas, até completar as seiscentas quince, máis ninguén volveu incomodalo.
    Como era posíbel?
    O David estaba realmente estrañado.
    Ollou para o reloxo.
    A leitura daquel romance apaixonante leváralle dezoito horas, máis ou menos.
    Sentiu que tiña fame.
    Eran horas de saír.
    E saíu.
    Mais non saíu onde el esperaba…




    Cando o David saiu do baño, atopouse ás escuras.
    Aparentemente seguía na casa, mais non recoñecía aquel espazo.
    Camiñou polo corredor, en dirección a onde sabía que estaba o salón.
    Entrou.
    Mais no canto de atopar a mesa, as cadeiras, o televisor, atopou unha fogueira no medio do salón con varios encarapuchados arredor, sentados no chan, a cantaren algo parecido a cántigas rituais.
    A escuridade era case absoluta alí, excepto pola tenue iluminación que procedía da fogueira.
    Aparentemente non había xanelas.
    No chan sentaban tres persoas que cantaban baixiño.
    O David foi para onde estivera a cociña.
    Mais alí a escuridade si era absoluta.
    Na entrada, unhas arañeiras enormes, capaces de atrapar elefantes, impedían o paso.
    E do interior xurdían uns ruídos inquietantes, como se fosen as tripas dunha balea a facer a dixestión.
    O rapaz estaba asustado, moi asustado.
    Que tiña acontecido?
    Decidiu encamiñarse para o seu cuarto.
    Desfixo os seus pasos polo corredor e atopou ás toas a porta do seu cuarto.
    Abriuna.
    Mais o que alí atopou non lle gustou nada.
    Non había rastro da súa cama, da súa mesa de estudo nin do seu computador.
    En troques, había alí unha especie de bruxo que saltaba –ou bailaba– arredor doutra fogueiriña no medio do cuarto.
    Levaba unha máscara de madeira inmensa, cun machado na man.
    Outros dous encarapuchados estaban tamén alí sentados, comendo como verdadeiros animais.
    Arredor deles aparecían caveiras humanas, con resto de carne.
    Eran antropófagos!
    Onde acabara o Davide?
    Aterrado, sen control, berrou.
    E axiña correu para o baño.
    E fechouse alí.
    Sentou na taza, ás escuras.
    O corazón latexáballe a toda velocidade.
    Porén, despois de media hora, acabou adormecendo.





    O David espertou alertado polos golpes da porta do baño.
    Aos poucos entrou un bombeiro cun machado na man.
    Por sorte, daquela non estaba coas calzas polo chan, aínda que estaba sentado na taza do váter.
    O David lanzouse nos brazos do bombeiro.
    – Sálveme!
    O bombeiro non dixo nada, mais recolleuno nos brazos e sacouno do baño.
    Fóra estaba a nai do David con cara de can; díxolle:
    –  Tres días aí dentro, neno, tres días!
    Aínda nos brazos do bombeiro, o David dixo:
    –  Mamá, non o vas acreditar, fixen unha viaxe no tempo! Coido que estiven no futuro! E non sabes o que nos espera! A hecatombe!
    O bombeiro pousou o Davide no chan.
    – Anda, vai comer algo á cociña –díxolle a nai ao fillo.
    O David foi para aló sen gurgutar. Tiña fame.
    Cando o bombeiro ficou ás soas coa nai, díxolle:
    – Todo en orde, señora.
    – Obrigadiños –dixo a nai sorrindo.
    – Espero que non precisen máis da nosa axuda –comentou o bombeiro da que recollía o machado.
    – Pode ter certeza de que non –respondeu a nai sorrindo mentres vía ao fondo do corredor o seu home a esconder as caveiras de plástico cobertas de guluseimas xunto coas carapuchas e a máscara de madeira do Antroido–. Estou segura que o meu fillo non volverá ficar no baño máis do tempo necesario.

© Texto: Xavier Frías Conde, 2010


A terapia anti-estrés | A terapia anti-estresse [+12 anos].- XFC

=================================(GL)=============================
    Epifanio d'Aula acudiu ao doutor cun ataque de estrés como poucas veces se tiña visto.
    O coitado del estaba teso como un casqueiro.
    O doutor batía nas costas do home cun martelo e aquilo soaba como se fose realmente de madeira.
    Os ombros tíñaos tesos, era incapaz de movelos.
    O doutor preguntou:
    – E entón, en que traballa o señor para estar tan estresado? Nunca tal vin, para lle ser sincero.
    Epifanio d'Aula virouse facendo un estraño movemento cos pés para ficar de fronte ao doutor. Despois díxolle:
    – Verá, doutor, eu sonlle rexistrador de aves do concello.
    O doutor, nin remotamente, podía imaxinar que tal profesión existise.
    – Cónteme, logo –pediu o doutor a Epifanio d'Aula.
    – Verá, como o concello anda escaso de orzamento, eu estou só para levar o rexistro de todas as aves de máis de cincuenta gramos do concello. Por sorte, os pardais e outros paxaros non contan, mais as pombas si. Hai vinte anos, só había pombas como aves de máis de cincuenta gramos, mais arestora hai ademais gaivotas, cormoráns, papagaios, cotorras e outros. O problema é que eu debo perseguilas por toda a cidade, pórlles un anel de control, anotar o rexistro e colocarlles un chip. E cos meus anos, xa non podo con isto, porque cada vez hai máis paxaros e o concello non quer contratar máis ninguén para me axudar con este traballo.
    O doutor comprendía a gravidade do asunto.
    – Señor d'Aula, heille dar unha licenza médica. O señor non pode continuar así.
    – Mais, doutor, se eu non rexistro as aves, isto será un caos!
    – Pode ser, mais é responsabilidade do rexedor. O señor está moi doente. Nunca vin un caso de estrés como o seu, que cause tal rixidez. Heille dicir que cando o seu estrés madurece, sáenlle unha especie de froitos polas orellas. Teño a sospeita de que o seu estrés dá froitos, un caso excepcional.
    – Daquela, é grave, doutor?
    – Gravísimo.
    – Ténlleme algunha solución?
    – Téñolla. Voulle receitar unha viaxe a Alaska.
    – A Alaska? Mais alí vai unha viruxe que conxela até os pensamentos.
    – Precisamente. Vai ficar alí tres semanas. Nin unha máis. Vexa os pingüíns, os osos polares, os leóns mariños, as baleas e os botarates.
    – Os botarates?
    – Serán os bocartes.
    Xa dito, xa feito.
    O doutor deu unha licenza médica ao Epifanio d'Aula.
    Este, que era un home moi formal e sempre disciplinado, viaxou a Alaska, onde estivo as tres semanas que lle durou a licenza.
    Tivo a tentación de dedicarse a rexistrar algunhas aves das que atopaba polo seu camiño, mais as recomendacións do doutor eran moi precisas: só observar, observar e pasear, nada de traballo.
    Con todo, quitou algunhas ideas sobre como rexistrar aves para cando se reincorporase ao traballo despois da licenza.
    E unha vez cumprido o tempo, Epifanio d'Aula presentouse na consulta do doutor todo recuperado. Perdera a rixidez e até sorría espontaneamente.
    – Doutor, estou recuperado, mais quero mostrarlle algo.
    – Mostre, mostre.
    O Epifanio d'Aula puxo unha caixa enriba da mesa. Contiña dúas estalaccitas petrificadas.
    – Isto que aquí ve, doutor, comezou a me saír polo nariz, cada estalaccita por un burato. Durante os primeiros días medraban e medraban até que, ao cabo, caeron ao chan. Despois petrificaron. Pódeme dicir de que se trata?
    – Caro señor d'Aula, precisamente foi por iso que o enviei a Alaska. O que lle saía polo nariz era o seu estrés. Ao contacto co frío, conxelou e despois petrificou. O estrés aliméntase da calor, mais co frío tende a saír. Eis o seu estrés materializado. A miña teoría era certa. E agora, se non lle importa, feche a porta cando saia que hei escribir un artigo sobre esta miña experiencia. Penso que a chamarei "tratamento do estrés por medio de lufadas polares con resultado de estalaccitación nasal". Que pase un bo día e non deixe de visitarme na próxima ocasión que se estrese.

================================(PT)=============================

    Epifânio d'Aula acudiu ao doutor com um ataque de estresse como poucas vezes se tinha visto.
    O coitado dele estava teso como um casqueiro.
    O doutor batia nas costas do homem com um martelo e aquilo soava como se fosse realmente de madeira.
    Os ombros tinha-os tesos, era incapaz de movê-los.
    O doutor perguntou:
    – E então, em que trabalha o senhor para estar tão estressado? Nunca vi uma coisa assim, para lhe ser sincero.
    Epifânio d'Aula virou-se fazendo um estranho movimento com os pés para ficar de frente ao doutor. Depois disse-lhe:
    – Verá, doutor, eu sou registador de aves do concelho.
    O doutor, nem remotamente, podia imaginar que tal profissão existisse.
    – Conte-me, pronto –pediu o doutor a Epifânio d'Aula.
    – Verá, como o concelho anda escasso de orçamento, eu estou sozinho para levar o registo de todas as aves de mais de cinquenta gramas do concelho. Felizmente, os pardais e outros pássaros não contan, mas as pombas sim. Há vinte anos, só havia pombas como aves de mais de cinquenta gramas, mas a dias de hoje há, aliás, gaivotas, cormorães, papagaios, catorras e outros. O problema é que eu devo persegui-las por toda a cidade, pôr-lhes um anel de controlo, anotar o registo e colocar-lhes um chip. E com os meus anos, já nem posso com isto, porque cada vez há mais pássaros e a Câmara não quer contratar mais ninguém para me ajudar com este trabalho.
    O doutor compreendia a gravidade do assunto.
    – Senhor d'Aula, dar-lhe-ei uma licença médica. O senhor não pode continuar assim.
    – Mas, ó doutor, se eu não registo as aves, isto será um caos!
    – Pode ser, mas é responsabilidade do presidente da Câmara. O senhor está muito doente. Nunca vi um caso de estresse como o seu, que cause tal rigidez. Hei de lhe dizer que quando o seu estresse madurece, saem-lhe uma espécie de frutos pelas orelhas. Tenho a suspeita de que o seu estresse dá frutos, um caso excecional.
    – Então, é grave, doutor?
    – Gravíssimo.
    – E tem alguma solução?
    – Tenho. Vou-lhe receitar uma viagem a Alaska.
    – A Alaska? Mas ali faz um frio que congela até os pensamentos.
    – Pois é. Vai ficar lá três semanas. Justo três. Veja os pinguins, os ursos polares, os leões marinhos, as baleias e as angadopas.
    – As angadopas?
    – Serão as anchovas.
    Dito, feito.
    O doutor deu uma licença médica ao Epifânio d'Aula.
    Este, que era um homem muito formal e sempre disciplinado, viajou até Alaska, onde esteve as três semanas que lhe durou a licença.
    Teve a tentação de dedicar-se a registar algumas aves que encontrava pelo caminho, mas as recomendações do doutor eram muito precisas: só observar, observar e passear, nada de trabalho.
    Contudo, tirou algumas ideias sobre como registar aves para quando voltar ao trabalho depois da licença.
    E uma vez cumprido o tempo, Epifânio d'Aula apresentou-se na consulta do doutor todo recuperado. Tinha perdido a rigidez e até sorria espontaneamente.
    – Doutor, estou recuperado, mas quero mostrar-lhe algo.
    – Mostre, mostre.
    O Epifânio d'Aula pôs uma caixa acima da mesa. Continha duas estalaccitas petrificadas.
    – Isto que aqui vê, doutor, começou a me sair pelo nariz, cada estalaccita por um burato. Durante os primeiros dias cresciam e cresciam até que, ao final, caíram ao chão. Depois petrificaram-se. Pode-me dizer de que se trata?
    – Caro senhor d'Aula, precisamente foi por isso que o enviei a Alaska. O que lhe saía pelo nariz era o seu estresse. Ao contato com o frio, congelou-se e depois petrificou-se. O estresse alimenta-se do calor, mas com o frio tende a sair. Eis o seu estresse materializado. A minha teoria era certa. E agora, se não se importa, feche a porta quando saia que hei de escrever um artigo sobre esta experiência. Acho que a chamarei "tratamento do estresse por meio de lufadas polares com resultado de estalaccitação nasal". Que tenha um bom dia e não deixe de visitar-me na próxima ocasião que se estressar.

                                            © Texto: Xavier Frías Conde, 2010
© Imaxe/imagem: Sara García, 2010

sexta-feira, dezembro 03, 2010

O pinguim insatisfeito [+10 anos].- XFC

    Sylvia James deslocou-se a Alaska para conhecer uns parentes.
     O seu pai era daquela terra fria, embora ela tivesse nascido em Nevada.
     Um bom contraste, porque em Nevada o sol permitia fazer ovos estrelados acima de uma pedra às doze do meiodia, enquanto em Alaska era possível poupar o dinheiro de um frigorífico e bastava deixar as bebidas à porta de casa para estarem frias, mas convinha ter cuidado que não vinhesse um urso e levasse as cervejas para a cova, coisa que podia acontecer.
      A Sylvia viajou até Nome, a capital de Alaska.
     A coitada dela escolheu o inverno, que não era um bom período para visitar aquelas terras, mas… era quando tinha algo de tempo para o fazer e quando os bilhetes do avião eram mais baratos.
     Portanto, lá foi.
     Mas a família dela não morava em Nome.
     Oxalá.
     Moravam numa aldeia perdida muito mais para o norte.
     A viagem foi um horror, dentro de um veículo muito estranho que podia mover-se pela neve.
     Era uma espécie de táxi que conduzia um homem que só usava três palavras quando lhe faziam perguntas:      "Hmm", "Grr", "Pff".
     Tinham uma certa lógica, mas ninguém sabia muito bem o que significavam.
     É por isso que ele era conhecido como Mr Threewords (isto é, Senhor Três-Palavras).
     Porém, Mr Threewords era um grande condutor.
     Felizmente conduziu a Sylvia até aquela aldeia remota onde morava a sua família.
    O único que disse depois de descarregar a equipagem no chão coberto de neve foi "hmm", que talvez significava "adeus, que tenha um bom dia", ou se calhar: "ainda bem que chegamos, com licença".
     Qualquer coisa era possível com aquele homem.



* * *


     A Sylvia foi muito bem acolhida pelos parentes da Alaska. Ficaria em casa da tia Shooz, a irmã do seu pai.
     Era uma mulher muito carinhosa, mas infelizmente cheirava sempre a rum.
     Bom, de facto toda a família cheirava a rum.
     A Sylvia começou a conhecer os arredores da aldeia com a Nicole, a sua prima. Tinham quase a mesma idade.
     A Nicole tinha um costume estranho: passava o tempo a fumar num cachimbo que, segundo dizia ela, estava feito de osso de baleia.
     Portanto, a Nicole tinha um cheiro muito engraçado, onde o rum, o tabaco e outros aromas impossíveis de determinar se misturavam. Porém, o resultado não era desagradável.
     A Nicole mostrou à Sylvia aquela terra aparentemente vazia, quase sempre coberta de neve e gelo.
     A rapariga de Nevada pensava que não gostaria de viver ali, com tanto frio. Não encontrava nada, nada, nada interessante naquelas terras brancas, embora lá estivesse o mar.
     Nada, nada?
    Até aquele dia em que a Sylvia descobriu junto com a sua prima aquele bebê de pinguim que estava abandonado.



* * *


     Era um bebê, com efeito.
     A mãe não estava à vista. Com certeza qualquer coisa grave tinha-lhe acontecido para o abandonar assim.
     A Sylvia sentiu o impulso de ir recolher o penguim, que estava lá sozinho, a tremer de frio.
     Mas os pinguins tremem de frio?
     A Nicole não disse nada, porque ela também sentia pena pelo pinguinzinho abandonado. Ela sabia que, se ficava lá sozinho, morreria logo.
     Portanto, levaram o pinguim para casa.
     A tia Shooz não se estranhou muito de encontrar aquele animal lá.
     "É que gosta do rum?", perguntou ela, que queria ajudar também.
     "Acho que não", disse a Sylvia.
     "E leite, gostará do leite?", perguntou a Nicole.
     "Acho que não. É um pássaro e os pássaros não gostam do leite".
     Realmente não sabiam como alimentar aquele animalzinho tão engraçado que olhava para elas todo cheio de curiosidade, vestido tão elegante.
     Porém, nem precisaram procurar nada para o alimentar.
     Ele sozinho, o bebê pinguim, encontrou algo para comer: um bote de feijoada.
     Ninguém poderia ter imaginado que o bebê pinguim gostava dos feijões!



* * *



      O pinguim alimentava-se de feijões com troços de toucinho e crescia.
     Durante a semana seguinte, a Sylvia apenas quis ocupar-se daquele animalzinho que mantinha quente envolvido em cobertores.
     Comia com muito apetite.
     Era tão porreiro o pinguinzinho.
     Decidiu que devia pôr-lhe um nome, porque na realidade já o tinha adotado como animal de estimação.
Depois de muito pensar nisso, decidiu chamá-lo "Beanguin", por gostar dos feijões (beans) e ser um pinguim (penguin); portanto, em português podia ser traduzido como Feijuim.
     Numa tarde, a Sylvia decidiu sair passear com o seu novo animal de estimação.
     Pensou que o Beanguin ou Feijuim gostaria de correr pelo chão coberto daquela capa branca.
     Mas errou.
     Quando o pinguim sentiu aquele frio nos seus pés, fez algo muito esquisito: conseguiu escalar pelo corpo da Sylvia como se fosse um lagarto.
     O Feijuim chegou em menos de dois segundos à cabeça da Sylvia.
     E lá ficou, a olhar para o chão com terror.
     A Sylvia não podia acreditar o que acontecia.
     E a sua prima Nicole, que tinha sido testemunha de tudo, disse:
     "É a primeira vez que vejo um pinguim grimpar como um gato…"
     As duas primas ficaram em silêncio.
     E então a Nicole disse:
     "Já percebi: este pinguim é friorento! Por isso não atura o frio da neve".



* * *


     Podem imaginar a situação?
     A Sylvia estava muito preocupada.
     Chegava o momento da sua partida; devia voltar para Nevada, mas não podia deixar lá o seu adorado pinguim ao cuidado da sua prima.
     Até podia conseguir que o animalzinho começasse a fumar em cachimbo!
     A Sylvia adorava o Feijuim. O Feijuim adorava a Sylvia, não viajava na cabeça de ninguém exceto na dela.
     Tinha que encontrar a forma para levar o pinguim a Nevada.
     "Estás maluca, á prima?", dizia-lhe a Nicole. "Esse animal vai morrer lá de calor".
     "Mas aqui vai morrer de frio", respondia a Sylvia.
     Chegou o dia da partida.
     O senhor Três-Palavras veio recolhê-la para levá-la a Nome, ao aeroporto.
     Então a Sylvia pensou que aquele estranho homem, se calhar, teria qualquer ideia.
     Explicou-lhe a situação do pinguim e como ela gostaria de levá-lo consigo no avião para Nevada, mas que não sabia como.
     Durante toda a conversa, Mr Threewords não disse nem "hmm", nem "grr" nem "pff".
     Quando a rapariga acabou de falar adicionou um som novo, um que não tinha feito nunca antes, mas não havia mais ninguém lá para ouvir; por isso ninguém poderia ter proposto que lhe mudassem o nome para Mr Fourwords (senhor Quatro-Palavras).
     O que ele disse foi "eing".
     E depois fez um gesto com a mão, que podia significar: "vem comigo", ou "traz o pinguim" ou "olha que cheiro tão esquisito há por aqui".
     A Sylvia optou por levar-lhe o pinguim, que estava lá na sua cabeça.


* * *


     Ninguém sabe bem como foi, mas dois depois de a Sylvia chegar a sua casa, chegou um pacote muito grande.
     Tinha aliás um laço muito grande.
     Levava uma nota onde, além do endereço da Sylvia, aparecia uma sinatura que a rapariga reconheceu: "Hmm-Grr-Pff".
     A Sylvia abriu o pacote.
     Lá dentro havia uma gaiola, mas parecia um pequeno quarto de um hotel.
     E claro, quem estava lá?
     O Feijuim!
     A viagem foi muito cómoda para ele, com muitos botes de feijões com toucinho.
     Quando a Sylvia abriu a gaiola, o pinguim saltou para a cabeça da rapariga, mas não era necessário, porque em Nevada não há neve pelo chão.
     Se calhar, vocês estão a se preguntar como pôde viver um pinguim em Nevada.
     Bom, qualquer pinguim teria morto, mas não o Feijuim.
     O Feijuim, como pinguim friorento, adorou Nevada e viveu muito contente com a Sylvia, pois gostava de se deitar na areia e tomar o sol com óculos escuros.
     E acaba assim a história da Sylvia e dos seus animais de estimação, o pinguim Feijuim e o coelho Dionysius, que se cria um tigre e atacava os cães de caça às mordidas…
      Que não vos falei do coelho Dionysius? Desculpem, mas terá que ser noutra ocasião, agora vou jantar.
      Até a próxima.

© Xavier Frias Conde
All rights reserved worldwide