terça-feira, dezembro 01, 2009

O avô teimoso [+8 anos].- XFC



O avô Joaquim era um avô muito fixe.

O seu neto, o Rui, adorava que ele fosse buscá-lo à escola.

Mesmo os seus companheiros tinham enveja, porque ninguém tinha um avô tão fixe como o avô Joaquim.

Ao Rui perguntaram-lhe se não vendiam avôs como o Joaquim nalguma loja, na net ou na televisão, mas ele com certeza nem o sabia; porém, disse que procuraria um avô como o seu para os companheiros terem um.

O avô Joaquim sempre trazia um cartão de iogurte de frutas para o Rui.

Dava-lho quando o menino saia pela porta da escola e sentavam num banco diante da escola.

E sempre o avô tirava ao chão o cartão depois de o menino ter acabado o iogurte.

Era um feio costume que ele tinha.

Se calhar, era o único defeito que o avô Joaquim tinha.

Bom, na realidade tinha ainda outro defeito: era imensamente teimoso.

Por isso, naquele dia aconteceram coisas realmente estranhas, esquisitas, inquietantes.

Tudo começou quando a um elfo lhe caiu o cartão de iogurte vazio acima da cabeça. Os elfos são invisíveis, mas quando algo lhes cai acima da cabeça zangam-se.

E aquele elfo estava muito chateado porque o avô tinha tirado aquele cartão de iogurte acima dele e, além disso, as gotas o banharam tudo.

Se outros elfos o tivessem visto, pensariam que se tratava de uma batida de frutas ambulante.

Seria o fim da dignidade daquele elfo, normalmente pacífico.

Por esse motivo, o elfo usou a sua magia.

Justo após tirar o cartão de iogurte no chão, o avô encontrou novamente o cartão entre as mãos.

De fato era como se não tivesse tirado o cartão ao chão.

Portanto, o avô volveu tirar ao cartão ao chão.

Logo, o cartão volveu às mãos do avô.

Cartão ao chão.

Cartão às mãos.

Cartão ao chão.

Cartão às mãos.

Cartão ao chão.

Cartão às mãos.

Cartão ao chão.

Cartão às mãos.

O Rui já estava farto daquilo. Despois de ver a mesma cena cinquenta e seis vezes, já começava a ter vontade de voltar para casa.

– Avô –disse o Rui–, não achas que deverias tirar esse cartão ao lixo?

O avô, embora fosse terrivelmente teimoso, devia ocupar-se primeiro do seu neto.

Tirou o cartão à lata do lixo.

E então ali ficou.

O cartão não voltou às suas mãos.

O elfo, já satisfeito, foi embora.

O Rui, também contente, recolheu a sua mochila e colocou-a nas costas.

O avô Joaquim, suspeitando que já tudo tinha concluído, meteu a mão na lata do lixo, pegou no cartão e tirou ao chão.

E é que ele sempre queria ter a última palavra...

Porém a última palavra ia tê-la um cãozinho simpático que recolheu o cartão do chão e seguiu o avô Joaquim e o seu neto Rui com o ditoso cartão na boca para lho devolver.

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