O avô Joaquim era um avô muito fixe.
O seu neto, o Rui, adorava que ele fosse buscá-lo à escola.
Mesmo os seus companheiros tinham enveja, porque ninguém tinha um avô tão fixe como o avô Joaquim.
Ao Rui perguntaram-lhe se não vendiam avôs como o Joaquim nalguma loja, na net ou na televisão, mas ele com certeza nem o sabia; porém, disse que procuraria um avô como o seu para os companheiros terem um.
O avô Joaquim sempre trazia um cartão de iogurte de frutas para o Rui.
Dava-lho quando o menino saia pela porta da escola e sentavam num banco diante da escola.
E sempre o avô tirava ao chão o cartão depois de o menino ter acabado o iogurte.
Era um feio costume que ele tinha.
Se calhar, era o único defeito que o avô Joaquim tinha.
Bom, na realidade tinha ainda outro defeito: era imensamente teimoso.
Por isso, naquele dia aconteceram coisas realmente estranhas, esquisitas, inquietantes.
Tudo começou quando a um elfo lhe caiu o cartão de iogurte vazio acima da cabeça. Os elfos são invisíveis, mas quando algo lhes cai acima da cabeça zangam-se.
E aquele elfo estava muito chateado porque o avô tinha tirado aquele cartão de iogurte acima dele e, além disso, as gotas o banharam tudo.
Se outros elfos o tivessem visto, pensariam que se tratava de uma batida de frutas ambulante.
Seria o fim da dignidade daquele elfo, normalmente pacífico.
Por esse motivo, o elfo usou a sua magia.
Justo após tirar o cartão de iogurte no chão, o avô encontrou novamente o cartão entre as mãos.
De fato era como se não tivesse tirado o cartão ao chão.
Portanto, o avô volveu tirar ao cartão ao chão.
Logo, o cartão volveu às mãos do avô.
Cartão ao chão.
Cartão às mãos.
Cartão ao chão.
Cartão às mãos.
Cartão ao chão.
Cartão às mãos.
Cartão ao chão.
Cartão às mãos.
O Rui já estava farto daquilo. Despois de ver a mesma cena cinquenta e seis vezes, já começava a ter vontade de voltar para casa.
– Avô –disse o Rui–, não achas que deverias tirar esse cartão ao lixo?
O avô, embora fosse terrivelmente teimoso, devia ocupar-se primeiro do seu neto.
Tirou o cartão à lata do lixo.
E então ali ficou.
O cartão não voltou às suas mãos.
O elfo, já satisfeito, foi embora.
O Rui, também contente, recolheu a sua mochila e colocou-a nas costas.
O avô Joaquim, suspeitando que já tudo tinha concluído, meteu a mão na lata do lixo, pegou no cartão e tirou ao chão.
E é que ele sempre queria ter a última palavra...
Porém a última palavra ia tê-la um cãozinho simpático que recolheu o cartão do chão e seguiu o avô Joaquim e o seu neto Rui com o ditoso cartão na boca para lho devolver.
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