— Mamã, diz a mestra que temos piolhos o Jorge e eu!
A mãe largou um suspiro. Agora já essa!
Com efeito, uma nota da escola dizia que os dois irmãos, o Jorge e a Valéria tinham piolhos. Portanto, ambos deles deviam ficar em casa para não contagiar os companheiros da turma e ser submetidos a tratamento.
A mãe da Valéria e do Jorge levou naquela mesma tarde os filhos ao doutor. Tratava-se do doutor Lopes Peres da Boaventura, prestigioso pediatra que era capaz de curar um resfriado pondo medo aos micróbios que o causavam.
Mas o doutor Lopes Peres da Boaventura encontrou que na cabeça dos dois garotos nem só havia uns piolhos pouco comuns, mas mesmo desconhecidos. Conseguiu apanhar um deles com as pinças e levou-o para o microscópio.
Quando o teve à vista, houve de se retirar do visor porque… o piolho lançava lapas de fogo! Era uma espécie de piolho dragão. E enquanto estava a fazer as suas observações pelo telescópio, chegou-lhe um cheiro como de pele frango torrado.
— Á, mamãe, a minha cabeça está a arder! —gritou o Jorge.
Mal transcorreram cinco segundos quando a Valéria também gritou:
— A minha cabeça também, mamãe!
A mamã, que era mamã nas vinte e quatro horas do dia, pegou nos filhos e levou-os para a casa do banho. Abriu a torneira e meteu as cabeças dos filhos sob o jorro de água. Depois apenas ficou um fuminho muito ligeiro a sair das cabeças deles.
Quando o doutor explicou que se enfrentavam a uma nova raça de piolhos, os piolhos-dragão, a mãe pensou que, se calhar, o doutor tinha chegado bêbedo à consulta.
Porém, o doutor nem estava bêbedo, nem estava a inventar nada. Os piolhos dragão eram uma nova ameaça para a vida escolar.
Por isso, o doutor Lopes Peres de Boaventura abriu um protocolo, que é uma coisa muito séria que se faz quando acontece algo grave. No protocolo, o doutor assinalava que era prioritário descobrir qual era a procedência dos piolhos dragão (pensava que mesmo tinha que procurar um nome científico para eles, mas isso não era tão urgente; pelo de agora, podia chamá-los peduculus flammigerus).
Graças à sua profissionalidade, o doutor Lopes Peres de Boaventura averiguou que os piolhos chegaram aos garotos numa loja chinesa do seu bairro, o Bazar «O vento cinzento do Mar Amarelo».
O doutor fez vir o proprietário da loja, o senhor Xung Qao. Parecia mesmo tirado duma dessas histórias de terror, porque não parecia um chinês normal, mas um desses antigos mandarins com trança, gorrinho redondo e bigodes finos e compridos a lhe cair pelos bordos.
O senhor Xung Qao compreendeu de seguida o que tinha acontencido. E explicou:
— Piolhos chineses vir por vezes em caixas de perfume. Garotos abrir tudo. Não respeitar cartazes: não tocar. Eles tocam. Portanto, abrir caixa de perfume oriental. Piolhos dragão sair e saltar cabeça garotos.
— Estou a perceber —disse o doutor—, mas como é que fazem na China para acabar com os piolhos-dragão? Estou a ver que são muito resistentes.
O velho mandarim tirou uma caixinha redonda da manga. No interior havia uns pontinhos pretos a saltar.
— Na China usar pulga-cavaleiro.
— Pulga-cavaleiro? O que é isso? —perguntaram a mãe dos garotos e o doutor ao mesmo tempo.
O chinês mostrou a caixinha e disse:
— Para matar dragões, é preciso usar cavaleiros. Por isso, na China, matar piolho-dragão com pulga-cavaleiro.
E antes de ninguém poder reagir, o chinês abriu a caixinha e várias pulgas saltaram para as cabeças dos garotos. Ninguém podia saber o que estava a acontecer naquelas florestas de cabelos, mas podia imaginar-se que estava a acontecer uma batalha feroz entre as pulgas e os piolhos. E como acontece sempre na mais lendária tradição chinesa, as pulgas-cavaleiro derrotaram os piolhos-dragão. Aos poucos foram cessando as explosões nas cabeças dos garotos.
A mamã e o doutor não podiam fechar a boca. Não podiam acreditar que tudo aquilo fosse certo, porque para os adultos é muito difícil acreditar no que não se vê. Mas depois de cinco minutos, o mandarim disse:
— Todos os piolhos-dragão derrotados. Vitória de pulgas-cavaleiro.
E sorriu, mostrando uns dentes muito mal conservados, o qual era uma vergonha porque com certeza ele também vendia creme e escova dos dentes. Assim não ia dar exemplo aos seus netos.
Mas, de repente, o Jorge e a Valéria começaram a se arranhar por todo o corpo. Sentima umas coceiras terríveis.
— Isso são as pulgas —explicou o doutor, que seguia sem saber o que fazer.
Mas a mãe perguntou ao mandarim:
— E como vencem as pulgas-cavaleiro no seu país?
Lá o mandarim apenas sorriu. Com a sua expressão queria dizer que na China usam as pulgas-cavaleiro para lutarem contra os piolhos-dragão, mas ninguém ainda tinha averiguado como acabar com as pulgas-cavaleiro.
© Xavier Frias Conde, 2011
All rights reserved worldwide
1 comentário:
¡¡Me encanta!!
Qué divertido, que pena que no sea capaz de comprender el texto completo en todos sus matices. Pero en esencia me parece una historia de los más entretenida. Oye, ayúdame a montar cuentos tan chulos, ¿no?
Un beso y mis felicitaciones.
Laura Frost
Enviar um comentário